Emanuel Cancella*
Os brasileiros já conviveram
com a escravidão; com a proibição do voto feminino; com a ditadura militar; com
o racismo; com a homofobia; com o machismo. Grande parte desses absurdos foi
superada e outra parte foi inibida pela lei. Mas a superação do atraso só
aconteceu depois de muita mobilização e luta!
O maior movimento cívico
brasileiro foi “O petróleo é nosso!” Esse movimento, que tomou o Brasil de
norte a sul e de leste a oeste, nas décadas de 1940-50, uniu comunistas e
conservadores, militares e civis. Um dos principais líderes do movimento do
petróleo foi Monteiro Lobato, paulista da cidade de Taubaté, um fazendeiro que
se transformou em escritor, aliás, o principal autor brasileiro de obras
infantis e um dos maiores no mundo. Chegou a ser preso, na sua luta para provar
que havia petróleo no Brasil.
Lobato escreveu “O escândalo do petróleo”. Nesse
livro, o escritor se posiciona totalmente favorável à exploração do petróleo
apenas por empresas brasileiras.
Maria Augusta Tibiriçá Miranda,
médica, também uma das líderes desse movimento cívico, hoje com mais de 90
anos, escreveu um livro cujo título tem o nome da memorável campanha “O
Petróleo é Nosso!”. Tibiriçá já profetizava que “a luta pelo petróleo
brasileiro não terminaria nunca”.
Precisamente agora, estamos em
meio a mais uma batalha dessa infindável guerra que já resultou em centenas de
perseguições, prisões, mortes. Inclusive o suicídio do presidente
Vargas teve como pano de fundo a questão do petróleo. Em seu governo, Getúlio criou
a Petrobrás e instituiu o monopólio estatal do petróleo.
Quando o petróleo era um
sonho, fomos protagonistas de uma das páginas mais emocionantes e marcantes de
nossa história: a campanha O Petróleo é Nosso. Como poderíamos imaginar que,
depois de tudo isso, no momento em que o petróleo brasileiro se torna
realidade, há quem ouse defender os leilões! Leiloar o nosso petróleo é o
mesmo que vender um bilhete premiado.
Como disse, também, o
brilhante ator Paulo Betti, referindo-se ao pré-sal, no filme “O Petróleo
é Nosso – A Última Fronteira”: “...é como se encontrássemos um tesouro
valiosíssimo em nosso quintal e, então, entregássemos a outros, porque somos
incompetentes para administrá-lo!”
Por mais de trinta anos, a
Petrobrás vem gastando bilhões de reais para descobrir o pré-sal, inclusive
desenvolvendo tecnologia inédita no mundo. Se investimos e acumulamos
conhecimento nessa tecnologia, como justificar a defesa dos leilões, para que
estrangeiros explorem e se apossem das nossas reservas de petróleo?
O pior é que, por trás das
multinacionais de petróleo, as mesmas que foram contra a criação da Petrobrás e
do monopólio e agora defendem com tanto ardor os leilões, está a conivência de
boa parte da mídia, a presidente da Petrobrás, Graça Fortes, o IBP e a Firjan.
Cedendo as pressões, o governo brasileiro já anunciou a retomada dos leilões
para maio e novembro do próximo ano.
Valeu Monteiro Lobato, Maria
Augusta Tibiriçá e Getúlio Vargas, por lutarem e se posicionarem a favor dos
interesses do povo brasileiro. Mas, infelizmente, a julgar pelos rumos que esse
debate vem tomando, tende a prevalecer a frase cinicamente pronunciada pelo
primeiro diretor geral da Agência Nacional de Petróleo – ANP. Em seu discurso
de posse, David Zilberstein, ex-genro de FHC, falando à imprensa e a
representantes das multinacionais, declarou: “O petróleo é vosso!”
Emanuel Cancella é secretário-geral do Sindicato
dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ)
http://www.apn.org.br/w3/index.php/opiniao/5003-nao-aos-leiloes-de-petroleo
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