segunda-feira, 30 de abril de 2012

É difícil ser trabalhador hoje em dia...

Operárias da GM em greve Dezembro de 1984.

Atualmente convive-se com muitas facilidades possibilitadas pelos avanços tecnológicos, uma pessoa no Japão consegue falar com outra aqui no Brasil pelo computador. No Brasil existem mais de 200 milhões de celulares, usa-se cada vez mais cartão do que dinheiro no dia-a-dia. Esses avanços são inegáveis, mas no fim nada elimina a necessidade de humanos para operar máquinas ou coisas do tipo.

O número de trabalhadores na indústria decai todo ano, seja pela robotização, seja pela desindustrialização, mas ainda assim é necessário um humano para ligar os robôs, assim como no setor de serviços e varejo, onde boa parte dos trabalhadores localizam-se hoje em dia, eles ainda são necessários, robôs não fazem vendas, nem ensinam, nem fazem procedimentos cirúrgicos.

Assim os humanos ainda são necessários na cadeia do processo produtivo, embora as condições nas quais eles realizem esse processo piorem a cada dia que passa. O trabalhador atual acorda muito cedo passa horas no transito para chegar a ambientes onde impera a competição onde cada vez menos pode se solidarizar com seu colega de trabalho devido à competição e ao perigo do desemprego.

Seus filhos estudam em escolas péssimas com salas de aula apertadas sem carteiras, com professores tão explorados quanto eles, pois, ganham pouco e precisam ensinar sem material em salas lotadas. Caso fiquem doentes pelo excesso de trabalho tanto o professor quanto o trabalhador precisam enfrentar filas enormes nos hospitais públicos, quase sem equipamentos e com enfermeiros e médicos tão mal remunerado quanto eles que fazem turnos enlouquecedores.
Foto de Sebastião Salgado



Na realidade tanto na iniciativa privada como no serviço público é muito difícil ser trabalhador hoje em dia. No entanto todos os dias, professores, médicos, enfermeiros pedreiros, vendedores, garis, zeladores, jardineiros, prostitutas acordam por que precisam realizar o exercício de trabalhar seja ele produtivo ou não para poder sobreviver já que não são donos de fábricas, ferramentas e empresas, mas essa necessidade é maior do que a simples sobrevivência, eles necessitam realizar essas atividades todos os dias, pois todas as nossas cidades, todos os nossos produtos que consumimos são feitos por nós, nesse processo construímos o nosso mundo e também nos construímos, pois, é justamente essa capacidade mágica de transformar uma pedra em uma ferramenta, ou em qualquer outra coisa que nos diferencia dos macacos, cachorros e gatos e nos transforma em humanos.

Portanto, por mais difícil que é ser trabalhador hoje em dia, tal atividade possui um potencial sem igual na nossa realidade, e justamente por possuir esse poder ao contrário do patrão é que nós os trabalhadores precisamos lutar para modificar esse atual estado de coisas tão horrível.

O primeiro de maio é uma data importante, mas uma na qual não devemos apenas comemorar um emprego com carteira assinada, mas sim respeitar os milhões de trabalhadores que vieram antes de nós e que construíram todo o mundo que conhecemos, e que principalmente as vezes se sacrificando por um futuro melhor nos entregaram direitos trabalhistas que os patrões e os políticos tentam todos os dias caçarem de nós.
Mas não devemos nos ater apenas aos direitos já conquistados, nosso poder com o trabalho é tão grande que devemos nos solidarizar com todos os trabalhadores e nessa união lutar para que esses direitos sejam ampliados, e não só ampliados, que os frutos de nosso duro trabalho não sejam mais roubados na cara dura de nós.

O primeiro de maio não é apenas um feriado, mas o principal deles onde os trabalhadores de todo o mundo devem comemorar aquilo que de fato eles são os trabalhadores do mundo, aqueles que de fato constroem o mundo.

João Vicente Nascimento Lins  - Membro do Comitê Municipal de Maringá do PCB 01/05/2012

Foto de Sebastião Salgado


sábado, 28 de abril de 2012

Abril da vergonha: quero castigo!


Por Mauro Iasi.

Uma cicatriz histórica, como qualquer outra cicatriz, é algo que insiste em mostrar algo que muitos querem esconder. Incômoda, áspera, marcada na carne e na memória, sua função é lembrar.

Como já disse Maquiavel: “na antiguidade e continuação do domínio gasta-se a memória”. No entanto, o inverso é igualmente verdadeiro, a memória, quando viva, é uma poderosa arma contra aqueles que querem naturalizar seu domínio.

Dizem que quando a Inglaterra invadiu e dominou a Irlanda no século XVII, como forma de impor o protestantismo, aproveitou-se de um período prolongado de fome para oferecer sopa àqueles que se convertiam à nova religião. Muitos anos depois, Ronald Reagan em campanha para presidente iria fazer uma viagem a Belfast para, como de costume, explorar sua descendência mirando os votos da comunidade irlandesa nos Estados Unidos. Quando desembarcou, uma enorme faixa o esperava: fora, tomador de sopa! Um povo que não esquece é um problema para os dominadores.

O atual debate sobre a ditadura empresarial e militar implantada em 1964 e seus crimes reacende esta polêmica entre o esquecimento e a memória. A história não tem pele para guardar suas cicatrizes, então emprestamos a nossa pele, nossa carne e nossos ossos, guardamos, nós que sobrevivemos, em nossos corpos a memória de nossos mortos, como disse Marighella. Mas por que a guardamos? Por que manter viva a dor do corte nesta cicatriz?

O dossiê da Comissão Especial de Direitos Humanos, denominado “Direito à Memória e à Verdade”, diz em sua apresentação que a coincidência de sua publicação no dia que marca os 28 anos da lei da Anistia sinaliza “a busca da concórdia, o sentimento de reconciliação e os objetivos humanitários que moveram os 11 anos de trabalho da Comissão Especial”. Não resta dúvida que a Comissão cumpriu um importante papel na denúncia dos crimes que encontravam-se soterrados sob o manto de silêncio e a arrogância militar que tutelou o processo de redemocratização em nosso país, no entanto, não foi além da denúncia do crime, não aponta os responsáveis que seguem protegidos supostamente pela Lei da Anistia.

Não se trata apenas de um problema de justiça, muito menos de uma mera pendência jurídica a ser arbitrada pelo STF, ou seja, se certos crimes prescrevem ou não, como o sequestro e a tortura e, portanto, não podem ser “anistiados”. Não pode ser resumido a um problema meramente moral, ainda que passe por uma dimensão moral. Trata-se, antes de tudo, de um problema político.

Quando da formação da chamada “Comissão da Verdade”, os militares reagiram de uma forma que é bastante significativa. Seu principal argumento, expresso pela boca de seus interlocutores uma vez que os militares propriamente não falam a não ser por seus clubes, militares reformados e parlamentares que lhes emprestam suas palavras, era que a comissão é “unilateral”. O presidente do Clube Naval, vice-almirante da reserva Ricardo Antônio da Veiga Cabral disse em reportagem ao jornal O Estado de São Paulo que “a verdade não tem de ser só de um lado, o que a gente espera é que haja equilíbrio” e completa afirmando que é necessário um diálogo, “sem radicalismo”, afinal, segundo o vice-almirante, “estamos em uma democracia”.

No início do processo de abertura controlada, o General Golbery do Couto e Silva, foi ainda mais direto em uma reportagem da falecida revista Veja, quando dizia, ao ser indagado se os militares deveriam temer que a abertura revelasse seus “desvios”. Naquela época ele afirmou que seria melhor que fossem abertos os armários e que colocassem os cadáveres na rua, eles iriam incomodar, mas com o tempo todos iriam esquecer.

Bom, então qual seria esta versão “democrática”, sem “radicalismos”, “equilibrada” e que poderia levar à “concórdia” e a “reconciliação”? Qual o “outro lado”?

Comecemos por constatar que tal postura dos militares é defensiva e altera, em parte, um posicionamento cínico, ou seja, o de negar que houve qualquer crime. Talvez esse seja o mérito da Comissão Especial, limpar o terreno do cinismo. Os golpistas sempre apresentaram a versão segundo a qual não houve crimes, ninguém foi torturado, sequestrado, morto. Houve presos, troca de tiros, fatalidades, suicídios, eventualmente um exagero isolado sem consentimento ou mesmo conhecimento dos militares e do governo ditatorial. Elio Gaspari em seu escancaramento da Ditadura já comprovou, através das próprias palavras de Geisel, o cinismo desta afirmação, assumindo não apenas as torturas, sequestros e mortes de militantes políticos de oposição como o pleno conhecimento da cúpula da ditadura.

Limpo este terreno, a estratégia de defesa altera para a afirmação que se tratava de uma luta, uma guerra, e na guerra certas coisas são necessárias para atingir os fins desejados. Tratava-se, segundo o discurso ideológico dos militares golpistas, de defesa da democracia contra o risco de uma revolução comunista. Nesta guerra morreram militantes de esquerda e morreram militares, a anistia apaga tudo e permite a reconciliação.

Este é um bom caminho. Trata-se de uma luta de classes. Nós da esquerda resistimos à ditadura de diferentes maneiras, desde a resistência pacífica do PCB até as diferentes formas de luta armada, passando pela resistência clandestina ou pela ação direta. Nossos camaradas se empenharam nesta luta conscientes, convictos de seus princípios e do compromisso ético-político, oferecendo suas próprias vidas quando assim se exigiu.

Não podemos cair na armadilha da vitimização. Nossos mortos e desaparecidos eram combatentes e, salvo exceções, sabiam exatamente o que faziam e contra quem se levantavam, o que só aumenta sua honra e seu heroísmo. Agora, isso é verdadeiro para nossos inimigos?

Caso os militares queiram assumir este discurso, que o levem coerentemente até o fim. Comecem por assumir que seu golpe e sua ditadura não se estabeleceram para garantir uma democracia, mas contra ela. O governo que foi deposto era um governo constitucional e democraticamente eleito que apontava para reformas. Os golpistas rasgaram a constituição, violaram a lei e impuseram um governo de exceção. Longe de ser para garantir a “democracia” foi, como sabemos, para garantir os interesses do grande capital monopolista nacional e imperialista. Seus mortos, aqueles que perderam a vida nesta luta de classes defendendo os golpistas, sabiam disso? Sabiam de fato pelo que lutavam e o que defendiam?

Seus profissionais de tortura, treinados pela CIA e pela Escola das Américas no Panamá, eram apenas assalariados do terror, sádicos e covardes escondidos em seus aparelhos oficiais e clandestinos. Seus oficiais protegidos em gabinetes dando ordens estão muito longe da figura mítica de alguém em um campo de batalha defendendo seus princípios. Optaram por uma repressão seletiva e acobertada para evitar um confronto aberto no campo da batalha. Escolheram o campo de luta que melhor lhes convinha e nisso foram muito eficientes.

Qual é o outro lado desta história? Alguns de seus agentes de terror morreu quando tentava nos massacrar? Então que se explicite os motivos da guerra e as verdadeiras intenções envolvidas. Muitos de nós defendíamos uma alternativa socialista para o Brasil, nem todos os que se empenharam na luta contra a ditadura eram socialistas, mas nos unificávamos na resistência contra a ditadura e sua barbárie. O que unificava nossos inimigos? Eram fantoches dos monopólios e do imperialismo, agentes do conservadorismo do latifúndio e da prepotência da burguesia.

Agora, isso revelado, o que altera o fato de que houve um terrorismo de Estado que de forma arbitrária, ilegal e imoral, usou um poder desproporcional atingindo diretamente seus adversários, não como combatentes que eram e que tinham legitimidade para sê-lo, mas aviltando-os em sua mais elementar dignidade humana? Nós os combatíamos e queríamos derrubá-los, é verdade. Eles nos combatiam e queriam nos aniquilar, é verdade. É isso que se reduz ver as coisas por dois lados? Não, esta é a armadilha para a reconciliação e o esquecimento.

Um lado sequestrou, levou para porões e aparatos oficiais, arrancou unhas, deu choques elétricos nos testículos, estuprou as mulheres na frente de seus companheiros e filhos, quebrou ossos, nos jogou nus em celas imundas cobertas de fezes, destruiu cientificamente nossos corpos e mentes, nos assassinou e escondeu nossos corpos para garantir o sagrado direito de propriedade e a continuidade da acumulação de capitais. Esta cicatriz ainda dói nos corpos dos desaparecidos, nas mentes destruídas aprisionadas nos corpos condenados a continuar vivendo, nas nossas filhas e filhos que cresceram sem seus pais e mães, nas mães e pais obrigados a viver sem seus filhos e não ter um túmulo onde chorar.

Nós sabíamos porque lutávamos. Seus assalariados do terror sabiam porque nos matavam? Eles repetiam para si mesmos que era para defender a pátria quando chutavam nossos rostos com seus coturnos? Eles repetiam que era para defender a família quando nos estupravam? Eles repetiam que era para defender a democracia quando nos arrastavam à noite de olhos vendados, sem mandato, sem processo e sem defesa, para ser assassinado em um matagal ou aparato clandestino do exército?

Não, não acho que seja possível reconciliação. Gosto de vê-los assustados quando nossos meninos e meninas os perseguem pelas ruas e fazem com que militares envergonhados tenham que entrar pela porta do fundo de seus clubes sob vaias e ovos podres. Gosto de ver a história os colocando no papel que lhes cabe: de algozes e assassinos. Não se trata de um problema jurídico. A borracha da anistia não apaga minhas cicatrizes e a memória da humanidade. Nós sobrevivemos a nossa derrota, vocês jamais escaparão do sangue que encharca sua vitória.
Com Pablo Neruda gritamos, intransigentes e irreconciliáveis:
Nossos Inimigos (Canto Geral)

Aqui eles trouxeram os fuzis repletos
de pólvora, eles comandaram o acerbo extermínio,
eles aqui encontraram um povo que cantava,
um povo por dever e por amor reunido,
e a delgada menina caiu com a sua bandeira,
e o jovem sorridente girou a seu lado ferido,
e o estupor do povo viu os mortos tombarem
com fúria e dor.
Então, no lugar
onde tombaram os assassinados,
baixaram as bandeiras para se empaparem do sangue
para se erguerem de novo diante dos assassinos.
Por estes mortos, nossos mortos,
peço castigo.
Para os que salpicaram a pátria de sangue,
peço castigo.
Para o verdugo que ordenou esta morte,
peço castigo.
Para o traidor que ascendeu sobre o crime,
peço castigo.
Para o que deu a ordem de agonia,
peço castigo.
Para os que defenderam este crime,
peço castigo.
Não quero que me deem a mão
empapada de nosso sangue.
Peço castigo.
Não vos quero como embaixadores,
tampouco em casa tranquilos,
quero ver-vos aqui julgados,
nesta praça, neste lugar.
Quero castigo.


Publicado originalmente em: http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/04/11/abril-da-vergonha-quero-castigo/




terça-feira, 24 de abril de 2012

O país do agronegócio


Os relatórios da CPT vêm mostrando que as diversas situações de trabalho escravo se alastram por todo o país e atingem patamares cada vez mais elevados

  20/04/2012

Frederico Daia Firmiano

 

No dia 28 de março, a Câmara Federal instalou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as situações de trabalho escravo e análogo à escravidão em áreas urbanas e rurais, em todo o país. Isto, num momento em que volta à cena a discussão sobre a Proposta de Emenda Constitucional n° 438, de 2001, que estabelece a pena de perda da propriedade onde for constatada a existência de trabalho escravo e reversão em área de assentamento rural dos trabalhadores vítimas das situações de escravidão, cuja promessa é que seja votada no próximo mês de maio.

Segundo os “Cadernos de Conflito”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre janeiro e setembro de 2011, houve 218 denúncias de situações de trabalho escravo, envolvendo 3.882 trabalhadores e trabalhadoras. O estado do Mato Grosso do Sul foi o recordista, com 1.322 casos. Registre-se que o Mato Grosso do Sul lidera o ranking de assassinatos de indígenas no Brasil desde 2005.

Nos últimos anos, os relatórios da CPT vêm mostrando que as diversas situações de trabalho escravo se alastram por todo o país e atingem patamares cada vez mais elevados. Antes de 2003, registraram uma média de 20 casos anuais. Depois disto, este número passou para mais 250 casos, anualmente. É a partir deste ano também que os agronegócios registram crescimento de mais de 20% ao ano. Alguns objetam, afirmando que, na verdade, não houve aumento de casos, mas sim da fiscalização. Mas isto é pouco relevante.

O que é negativamente importante é que o trabalho escravo persiste num contexto de hegemonia dos agronegócios. E aparece em seus setores mais modernos. O estado do Mato Grosso do Sul e a região centro-oeste, para onde têm se expandido as cadeias produtivas no agronegócio, está entre aqueles que utilizam as tecnologias mais modernas na produção agropecuária. Isso indica que, longe de ser uma manifestação de “setores arcaicos da economia que precisam ser modernizados” esta forma de superexploração do trabalho é parte constituinte do padrão atual de acumulação de capital no campo brasileiro.

A aposta que vem sendo feita pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) responde a um projeto de hegemonia. Tal projeto aproveitou os processos de reestruturação produtiva e implementação das políticas neoliberais para atender os imperativos político-econômicos do capital transnacional e aos interesses das forças políticas internas e reiterou a posição subalterna do país na divisão internacional do trabalho, como fornecedor de commodities.

Com isso, consagrou um padrão de desenvolvimento que reproduz formas de acumulação altamente destrutivas: é o caso dos agronegócios, que necessitam, permanentemente, expandir a área agrícola agricultável e aumentar a produtividade do trabalho, que reitera as distintas formas de trabalho escravos.

Segundo o deputado paraense Claudio Puty, do PT, a CPI do Trabalho Escravo, que presidirá, não identificará e nem punirá as empresas responsáveis, mas analisará a eficácia da fiscalização trabalhista e verificará a legislação e a estrutura de combate ao trabalho escravo, propondo, ao fim, alternativas para a erradicação da pobreza extrema que, para ele, é a causa principal deste tipo de relação de trabalho.            

Erra o alvo. Acertá-lo significa tocar no modelo de desenvolvimento e, mais que isso, no padrão destrutivo de acumulação de capital que hoje dá o tom deste desenvolvimento. Mas esta é uma tarefa que a CPI do Trabalho Escravo e a votação da PEC 438/2001, em que pese sua importância na luta contra os agronegócios, não pode cumprir, pois essa luta está circunscrita àqueles movimentos radicalmente opostos à dinâmica do capital no campo. Cabe a esses movimentos aproveitar o momento político para mobilizar as forças capazes de enfrentar este modelo de desenvolvimento reprodutor da escravidão.


Frederico Daia Firmiano é professor-assistente da Fundação de Ensino Superior de Passos/Universidade do Estado de Minas Gerais e doutorando em Sociologia pela FCLar/Unesp

Empresas ignoram soluções para doença que mata trabalhadores da cana


Médicos apontam para fenômeno ligado ao corte de cana sob altas temperaturas: a Doença Renal Crônica. Empresas se recusam a reconhecer o problema e demitem trabalhadores doentes

LA ISLA, Nicarágua — Maudiel Martinez tem 19 anos e um sorriso tímido, cabelos pretos encaracolados e um corpo magro, com uma estrutura muscular formada pelos anos de trabalho nos campos de cana de açúcar. Na maior parte de sua adolescência, ele foi saudável e passava seus dias cortando talos altos de cana com seu facão.
Agora Martinez sofre de uma doença fatal que está devastando sua comunidade e dezenas de outras na América Central, onde já dizimou fileiras de trabalhadores da cana. A mesma doença matou seu pai, seu avô e castiga seus três irmãos mais velhos.

“Essa doença come nossos rins por dentro”, diz Martinez. “Não queremos morrer, estamos tristes porque já sabemos que não há esperança para nós.”

A doença de Martinez está no coração de um mistério letal – e do legado de negligência por parte da indústria e de governos como o dos Estados Unidos, que resiste a apelos para uma ação agressiva de destaque à doença e busca de uma solução. Mais do que a vida de que colhe a cana, as nações ricas estão focadas em estimular a produção de biocombustíveis na indústria da cana e em manter o grande fluxo de açúcar para os consumidores americanos e fabricantes de alimentos.

Pouco notada pelo resto do mundo, a Doença Renal Crônica (DRC) está cortando vidas e abrindo uma clareira entre as populações mais pobres do mundo, a faixa se estende em um trecho da Costa do Pacífico da América Central que abrange seis países e cerca de 700 quilômetros. Suas vítimas são trabalhadores braçais, principalmente da cana.

Em cada ano de 2005 a 2009, a insuficiência renal matou mais de 2,800 homens na América Central, de acordo com a análise dos últimos dados da OMS feita pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Somente em El Salvador e na Nicarágua, nas últimas duas décadas, o número de homens morrendo de doenças no rim quintuplicou. Hoje, mais homens morrem de DRC do que de HIV/AIDS, diabetes e leucemia juntos.

Mapa da América Central mostra o número de mortes por doenças renais em 2009 e o aumento % nas taxas de mortalidade durante o período de 2005 a 2009 


“Ninguém deveria morrer de doença renal no século 21”, diz Ramon Trabanino, médico de El Salvador que estudou a epidemia durante uma década.


O surto da doença é esmagador em hospitais, esgotando os orçamentos de saúde, e deixando um rastro de viúvas e crianças nas comunidades rurais. Em El Salvador, a DRC é a segunda principal causa de morte para os homens. Na província de Guanacaste, Costa Rica, o hospital regional teve de começar um programa de diálise em casa porque estava sobrecarregado com tantas vítimas da DRC que começou a ficar sem leitos para tratar pacientes com outras doenças.
Tantos homens morreram em algumas partes rurais da Nicarágua que a comunidade de Maudiel Martinez, antes chamada de “A Ilha”, agora é conhecida como “A Ilha das Viúvas” — La Isla de las Viudas, em espanhol.

À primeira vista, a comunidade abundante cercada por vastos campos de cana se parece com muitos lugares da América Latina: as crianças andam de bicicleta por estradas de terra e brincam ao lado de cães, porcos e galinhas. Mas hoje há poucos homens nos quintais. No interior das casas, fotografias emolduradas de maridos, pais e irmãos mortos decoram mesas e balcões. Não há grupos de homens mais velhos, trocando fofocas e notícias, como se vê frequentemente em comunidades no interior da costa do Pacífico.

Aqui, as mulheres se esforçam para ganhar pouco dinheiro fazendo bicos. Algumas já estão nos campos de cana de açúcar que elas acreditam ter levado seus maridos.
“Meus filhos sofreram muito”, diz Paula Chevez Ruiz, viúva de La Isla cujo marido Virgilio morreu em 2009, deixando-a para sustentar quatro filhos sozinha. Quando ela consegue encontrar clientes, vende frutas e enchiladas. “É triste querer dar a seus filhos, mas não ter nada. Às vezes, nem mesmo o suficiente para comprar um saco de sal. ”

Enigma fatal e um punhado de pesquisadores

Nos EUA, as principais causas de doença renal crônica são a diabetes e a hipertensão. Mas a doença – que leva a um declínio progressivo da função renal –  normalmente pode ser controlada com tratamento. Médicos entendem suas causas e curas.
Na América Central, as origens da doença são um enigma, e ela é frequentemente letal. Trabalhadores que sofrem nos campos de cana de açúcar perto do Pacífico não têm, geralmente, nem diabetes, nem hipertensão.

Alguns cientistas suspeitam que a exposição a uma toxina desconhecida, potencialmente no trabalho, pode desencadear o início da doença. Os pesquisadores concordam que a desidratação e o stress térmico do trabalho árduo são provavelmente fatores contribuintes – e podem até causar a doença. Trabalhadores que normalmente não são pagos por hora ou dia, mas com base na quantidade que colhem, muitas vezes trabalham até o ponto de grave desidratação ou colapso, potencialmente prejudicando seus rins em cada turno.

A DRC geralmente ataca os pequenos vasos sanguíneos do rim chamados glomérulos; a epidemia da América Central ataca os túbulos dos rins. A DRC afeta geralmente as pessoas mais velhas, com igual distribuição entre os sexos; esta epidemia afeta predominantemente homens em idade de trabalho, principalmente trabalhadores da cana, mas também mineiros e outros trabalhadores agrícolas.

Uma crescente comunidade de pesquisadores está chamando atenção para o reconhecimento de uma nova doença ainda não incluída nos manuais médicos: “nefropatia mesoamericana”, “nefropatia agrícola endêmica” ou “nefropatia da cana.” O diretor do programa nacional de DRC em El Salvador tem escrito sobre uma “Nefropatia Regional Mesoamericana” que um dia poderá ser reconhecida internacionalmente.

“É importante que a Doença Renal Crônica que aflige milhares de trabalhadores rurais da América Central seja reconhecida como o que é: uma grande epidemia com um impacto enorme na população”, disse Victor Penchaszadeh, um epidemiologista clínico da Universidade de Columbia e consultor da Organização de Saúde Pan Americana sobre as doenças crônicas da América Latina.

Ramon Vanegas, um nefrologista que avalia pedidos de pensões de doenças ocupacionais dos trabalhadores para o Instituto de Segurança Social da Nicarágua, disse que os casos que ele define como “DRC trabalhista” seguem um padrão de lesão renal tubular combinado com um histórico de insolação.
“Normalmente, eles estão trabalhando e têm espasmos musculares, ficam febris e entram em colapso”, disse Vanegas sobre os pacientes cujos pedidos ele aprova. “Então eles voltam a trabalhar, eles enfrentam os mesmos riscos, e o ciclo se repete. Então, dois ou três anos mais tarde, o paciente tem [DRC].”

Enquanto os médicos ponderam sobre rótulos e diagnósticos, o mistério persiste: Por que essa forma de DRC ataca homens de uma forma particular – e nesta região específica?

Alguns estudos sugerem que fatores de risco, da exposição a pesticidas, passando pelo abuso de álcool ao uso frequente de drogas anti-inflamatórias, podem desempenhar papéis importantes no início da DRC. Outros mostram que os mineiros, estivadores e trabalhadores de campo nas regiões afetadas também têm altas taxas de DRC. Um estudo na Nicarágua encontrou uma cidade mineira que tinha uma das taxas mais elevadas de prevalência no país.
“A evidência nos aponta mais fortemente a hipótese de que talvez estresse térmico – trabalho duro em um clima quente, sem reposição suficiente de líquidos – pode ser uma causa desta doença”, disse Daniel Brooks, pesquisador chefe da equipe científica da Universidade de Boston que está entre um punhado de grupos de realização de estudos iniciais.

Durante o dia, a equipe observou os trabalhadores da cana de açúcar em uma temperatura média de 35 graus Celsius nas plantações. O relatório observou que a Administração Ocupacional de Segurança e Saúde dos EUA, que fiscaliza a segurança nos locais de trabalho, pede 45 minutos de descanso para cada 15 minutos de trabalho nesse nível de estresse de calor.


A investigação preliminar da equipe reforça a hipótese de estresse por calor; amostras de sangue e urina colhidas de diferentes tipos de cortadores de cana durante o curso de uma safra mostram mais evidências de dano renal entre aqueles que realizaram um trabalho extenuante ao ar livre. Anteriormente, a equipe identificou uma série de práticas de trabalho e produtos químicos na empresa que poderiam danificar os rins. Brooks disse que mais pesquisas são necessárias antes que conclusões possam ser tiradas.

Estudos internos feitos pela Nicaragua Sugar, donos de uma das maiores plantações de açúcar da América Central, fornecidos pela empresa para o ICIJ, mostram que a empresa tem uma longa evidência de uma epidemia ligada ao estresse por calor e desidratação. Em 2001, o médico da empresa, Felix Zelaya, realizou um estudo interno sobre as causas da DRC entre os seus trabalhadores. “O trabalho extenuante com a exposição a altas temperaturas ambientais sem um programa de hidratação adequada predispõe os trabalhadores a síndrome de estresse por calor [insolação], que é um fator importante no desenvolvimento da DRC”, concluiu Zelaya.
A Nicaragua Sugar e outras empresas dizem ter agido voluntariamente para proteger os trabalhadores, melhorando a hidratação, reduzindo a jornada de trabalho e reforçando a fiscalização de empreiteiros de trabalho.

Mesmo assim, a Nicaragua Sugar contesta a existência de um raro problema no rim afetando seus trabalhadores. “Estamos convencidos de que não temos nada a ver com doença renal”, disse o porta-voz da Ariel Granera. “Nossas práticas produtivas não geram e não são fatores causais da doença renal crônica.”

Sinais de problema

Em 2000, o médico salvadorenho Trabanino notou um grande número de homens jovens e de meia-idade que entram em seu hospital em El Salvador, todos com casos avançados de doença renal crônica. “Por alguma razão, para o resto do mundo isso parecia normal”, lembrou. “Para mim, parecia estranho e curioso.”

Em 2002, Trabanino publicou um dos seus primeiros estudos sobre a doença, um perfil de 205 novos pacientes que entraram em seu hospital em estágio final da doença renal. Dois terços desses casos não tinham os fatores de riscos habituais para doença renal crônica – e tinham alguns aspectos em comum.
“Eram quase todos homens que viviam nas zonas baixas do país, perto da costa, perto de um grande rio”, escreveu Trabanino no Jornal Pan-Americano de Saúde Pública. Um grande grupo destes pacientes também descreveu “contato profissional frequente com inseticidas e pesticidas, sem proteção adequada.”

Outro estudo com pacientes renais do norte da Costa Rica – mais uma vez a partir de uma região sufocante, de baixa altitude, perto da costa do Pacífico – descreveu um padrão semelhante.
“Todos são homens jovens, entre as idades de 20 e 40 anos,” escreveu o Dr. Manuel Cerdas, de Costa Rica, no Kidney International Journal. “A característica mais interessante nesses pacientes é epidemiológica – todos eles são trabalhadores nos campos de cana de açúcar há um longo tempo”.

Cerdas descobriu mais tarde que as vítimas da epidemia dividiam outra condição: a doença havia atacado uma parte de seus rins: os túbulos. A doença de túbulo-intersticial é geralmente rara – correspondendo a apenas 3,7% dos casos de doença renal em estágio final nos Estados Unidos. As causas conhecidas incluem exposição a tóxicos e desidratação.

Hoje, El Salvador promove testes de sangue nas áreas rurais mais atingidas para tentar pegar casos em estágios tratáveis. Trabanino, que estudou a epidemia por mais de uma década, diz acreditar que o rastreamento, campanhas para educação pública e melhorias na segurança do trabalhador poderiam parar a propagação da doença – se houvessem recursos disponíveis.

Pesquisadores na América Central, enquanto isso, encaram uma batalha difícil. Os poucos estudos sobre DRC feitos até agora têm sido conduzidos em hospitais e comunidades afetadas, onde as pessoas já estavam doentes. Teorias sobre o papel que produtos químicos tóxicos podem desempenhar na causa da doença são difíceis de serem testadas porque os cientistas precisam ter acesso às vítimas da epidemia enquanto eles estão adoecendo.

Silêncio sobre a DRC; ação rápida sobre biocombustível

Empresas produtoras de açúcar da América Central têm sido relutantes em abrir suas portas para os pesquisadores de saúde externos. Os defensores acreditam que a indústria teme a designação da doença como uma doença ocupacional. A resistência começou a amolecer notadamente na plantação do Engenho de San Antonio da Nicaragua Sugar, onde a equipe da Universidade de Boston está trabalhando. Mas a indústria em geral tem impedido o contato de cientistas independentes com as propriedades de suas empresas, funcionários ou registros.

Aurora Aragon, especialista em saúde ocupacional na Universidade de Leon, na Nicarágua, disse que, em 2004, pesquisadores de uma ONG internacional chamada SALTRA pediram a empresas líderes no ramo de açúcar da Nicarágua que colaborassem em um estudo de segurança do trabalho. Ela diz que o Engenho San Antonio e o Engenho Monte Rosa ignoraram o pedido.
Em 2007, Aragon diz, outro pedido de acesso foi feito por seus colegas e foi rejeitado pelo Engenho San Antonio. “No fim, essa foi a conclusão”, diz ela. “Nenhuma empresa de açúcar nos deu permissão para estudar o problema.”

Mario Amador, um porta-voz do grupo comercial da indústria de açúcar da Nicarágua, que representa as plantações abordadas por SALTRA, disse que a indústria tem permitido estudos por médicos, estudantes de medicina e autoridades de saúde, mas devem ter cuidado na partilha de informações com pessoas de fora.
“Pessoas com más intenções tentaram ligar a DRC com o trabalho na indústria do açúcar, pois esta indústria foi a primeira a encontrar altas taxas de DRC na força de trabalho que veio para as fazendas em busca de trabalho”, diz Amador. “É por causa desses ataques constantes que as plantações e seus funcionários são muito cuidadosos sobre a informação que fornecem a qualquer pessoa ou instituição”.

Produtores da América Central têm um papel significativo no negócio global de açúcar; em 2011, os EUA importaram mais de 330.000 toneladas de açúcar da região, representando 23% do total das importações de açúcar bruto.

Para além da mesa da cozinha, o governo dos EUA tem promovido pesadamente a indústria do açúcar – nas áreas afetadas pela epidemia – como fonte de biocombustível a partir do etanol. Os EUA financiou conferências para promover os biocombustíveis, tanto na Nicarágua e como em El Salvador apenas em 2008, de acordo com os telegramas das embaixadas divulgados pelo WikiLeaks. Seus embaixadores se reuniram várias vezes com os líderes de indústrias de açúcar de ambas as nações, e se lamentaram que a incapacidade de desenvolver a produção de etanol iria conduzir essas nações rumo a dependência das importações de petróleo da Venezuela de Hugo Chávez.
Em 2007, o então embaixador Paul Trivelli notificou o Departamento de Estado dos EUA  sobre o primeiro carregamento de etanol do Engenho San Antonio e escreveu que a empresa tinha abraçado “o potencial para desenvolver a indústria e os aspectos positivos dos biocombustíveis.” Mas ele expressou a preocupação de que o presidente esquerdista da Nicarágua, Daniel Ortega, poderia ser influenciado pela oposição aos biocombustíveis do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

No ano seguinte, Trivelli escreveu que o Departamento de Estado havia designado a Nicarágua como um “país de alta prioridade” para os biocombustíveis. A embaixada de El Salvador, vizinho do norte da Nicarágua, também promoveu o etanol vigorosamente: embaixadores se reuniram com líderes da indústria de açúcar, compartilharam preocupações com o Departamento de Estado sobre os efeitos políticos de importações de petróleo da Venezuela, e patrocinaram uma conferência para promover os biocombustíveis.

O Banco Mundial, por sua vez, forneceu mais de US $ 100 milhões em empréstimos para promover a produção de biocombustíveis em duas plantações altamente afetadas, que aprovou sem consideração formal da doença renal. Depois de os trabalhadores se queixarem, o Banco concedeu $ 1 milhão para patrocinar o estudo em curso da Universidade de Boston.

Antes de receber os empréstimos, as empresas precisavam assegurar o Banco que eles estavam de acordo com os padrões sociais e ambientais. Equipes de avaliação publicaram apreciações elogiosas às práticas do Engenho San Antonio e do Engenho Monte Rosa em setembro de 2006 e maio de 2007. Nenhum relatório mencionou a DRC.

Em outubro de 2006, o conselho da International Finance Corporation (IFC) – credor do Banco Mundial para projetos do setor privado – aprovou um empréstimo de 55 milhões de dólares para o Engenho San Antonio. Um empréstimo de 50 milhões de dólares para Monte Rosa foi aprovado em junho de 2007.
Com o dinheiro, as empresas expandiram, mandando mais trabalhadores para as plantações de cana.

Edgar Restrepo, um oficial sênior de investimentos para o IFC, disse que sua equipe considerou a DRC quando avaliou o Engenho San Antonio, mas que o conteúdo de suas deliberações é confidencial. A porta-voz do IFC, Adriana Gomez, diz que o IFC tinha “cumprido com os seus rigorosos padrões sociais e ambientais em um processo de due diligence.”

Um impasse na Cidade do México

Enquanto governos da América Central têm comprometido poucos recursos para o combate à DRC, eles começaram a soar os alarmes.

O governo de El Salvador tem sido enfático nos pedidos por ajuda de pesquisas internacionais. Na conferência da cúpula dos ministros da saúde das Nações Unidas em fevereiro deste ano na Cidade do México, a ministra da saúde de El Salvador, Maria Isabel Rodriguez, declarou que a doença renal crônica estava “desperdiçando nossas populações” na América Central. Ela chamou os outros ministros de saúde a incluir a DRC entre as principais doenças crônicas nas Américas, um passo que pode atrair fundos das Nações Unidas para estudos.
A proposta de Rodriguez entrou em forte oposição com o participante mais poderoso da cúpula: os Estados Unidos.

Rodriguez disse que a delegação dos EUA recusou-se a incluir a doença na lista das doenças crônicas mais graves do continente tanto quanto aceitar a linguagem que sugere que a epidemia teve causas relacionadas à exposição a produtos químicos tóxicos.

Representantes da América Central disseram que eles estavam tão irredutíveis que se recusaram a assinar a declaração final da conferência, a menos que a DRC fosse incluída. Por vários momentos de tensão, a disputa ameaçava descarrilar o consenso da conferência. Resultado: uma única frase mencionando a doença renal crônica na América Central.
David McQueen, um delegado dos Estados Unidos e membro dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, disse ao ICIJ que os EUA se opuseram a mencionar a DRC para manter o foco no diabetes, nas doenças cardíacas e no câncer.
“As declarações que são feitas raramente são bem sucedidas, a não ser que sejam muito segmentadas”, disse ele.

McQueen, que já se aposentou, disse que não tinha conhecimento da dramática disseminação da doença renal crônica até que o assunto foi levantado na conferência. “O assunto da doença renal crônica pegou todos de surpresa”, disse ele. “Por que isso está sendo fortemente deixado de lado?” McQueen aprendeu na reunião que “é um problema significativo”, estimulando “uma grande quantidade de recursos” para médicos e hospitais na América Central.

No entanto, mesmo depois de saber do problema, os EUA agiram pouco. A porta-voz do CDC, Kathryn Harben, disse que em um jantar na noite da conferência da Cidade do México, o CDC informalmente se ofereceu para ajudar os ministérios da saúde mesoamericanos. Ele ainda não fez isso, ela disse, porque os ministérios ainda não apresentaram um pedido formal. O oficial superior de saúde dos EUA na cúpula, o Dr. Howard K. Koh, secretário assistente para a saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, se recusou a ser entrevistado para esta reportagem.

Fique doente e perca seu emprego

O Engenho San Antonio e o Engenho Monte Rosa, as maiores plantações da Nicarágua, agora testam o sangue dos trabalhadores para medir a creatinina, uma substância química que indica a função renal. Trabalhadores com níveis de creatinina elevados são demitidos, uma atitude que as empresas dizem ser necessária para evitar trabalhadores doentes de terem risco maior a sua saúde nos campos.
A demissão também tira dos trabalhadores os cuidados nos hospitais da empresa e, muitas vezes, as pensões pagas pela empresa.

O Engenho San Antonio disse que reduziu o horário de trabalho, forneceu mais água e solução hidratante e contratou assistentes sociais para acompanhar os contratantes nos campos para assegurar uma hidratação adequada. Atualmente, a jornada de trabalho não dura mais de oito horas, por exigir trabalhos físicos, e a empresa oferece oito litros de água e 2700 ml de soro para hidratação por dia para cada trabalhador do campo, disse o porta-voz Granera.

Em novembro de 2009, Maudiel Martinez embarcou em ônibus da empresa em uma manhã e se dirigiu para os campos. Ele tinha 17 anos e estava começando seu quarto ano no Engenho San Antonio. A época da colheita estava prestes a começar e, como rotina, a empresa tinha realizado exames de sangue para ver se os trabalhadores eram saudáveis ​​o suficiente para o trabalho de campo.
Martinez estava no ônibus quando ele recebeu a notícia: ele falhou no teste de creatinina. Ele tinha a doença.
“Eu chorei pelo meu luto”, disse Martinez. “Eu era uma criança, com 17 anos você ainda é um adolescente.”

O diagnóstico fez com que Martinez fosse formalmente proibido de trabalhar para a empresa. Com sua família lutando financeiramente e nenhum trabalho alternativo à vista, Martinez assumiu um nome e um número da Segurança Social falsos e voltou a trabalhar na mesma área, para empreiteiros independentes que, segundo ele, não se importaram com o fato dele fornecer nome e registro de uma mulher.

Pelo menos alguns trabalhadores contratados ainda estão saindo em turnos mais longos, mais arriscados. Um repórter da ICIJ, em junho de 2011, observou que os ônibus pegando trabalhadores contratados do Engenho San Antonio saíam às 5:25 da manhã e voltavam às 5:31 da tarde. Trabalhadores disseram que cerca de 10 dessas horas foram gastas nos campos.

Um colapso nos campos

Em 10 de junho de 2011, Martinez foi designado para cortar quatro fileiras de cana. Sua tarefa era despir as folhas da cana, picá-las em pedaços, e amarrá-las em pacotes. Cerca de 40 peças compõem um pacote. Para este trabalho, ganhou um córdoba por maço – menos de dez centavos de reais.
Às 8:30 da manhã, ele havia cortado duas fileiras. Ele estava começando a se sentir mal, mas continuou a cortar no calor sufocante. “O sol estava muito forte, e eu tinha suado através da minha camisa como se alguém tivesse jogado água sobre mim”, lembra Martinez.
No momento em que ele terminou de cortar as fileiras, por volta das 11 da manhã, Martinez estava febril e com náuseas. Ele descansou por 15 minutos, mas ainda tinha que amarrar os pedaços em pacotes. Outro trabalhador veio para ajudar.
Martinez disse que terminou por volta das 13 horas, e o ônibus veio para levar os trabalhadores para casa cerca de meia hora depois. Quando o ônibus chegou, Martinez se sentiu muito doente. “Entrei no ônibus e eu não conseguia mais andar”, disse ele.
Já que Martinez era um trabalhador temporário, ele não poderia ir para o hospital da empresa. Ele tomou o ônibus para casa e a bordo começou a vomitar. O ônibus não parou. “Os caras só me deram a chance de enfiar minha cabeça para fora da janela”, disse ele.
A estrada onde o ônibus o deixou é separada de sua casa por um rio raso. Sua mãe e irmão o carregaram para atravessar o rio e levá-lo para sua cama.
Logo após seu colapso, Martinez descobriu que seus níveis de creatinina foram para cima. Ele passou dias sem apetite, querendo apenas bebidas geladas para aliviar a sensação de febre.
“Se a morte está chegando, temos de nos resignar a esperar por ela”, disse Martinez. “Renunciar a si mesmo significa esperar pelo que a doença está dando a você. Porque você olha para mim e eu pareço normal agora, mas por dentro eu sinto que estou queimando.”
Clique aqui para ler o original, em inglês


Publicado originalmente: http://www.iwatchnews.org/node/7578/


sexta-feira, 20 de abril de 2012

RONDÓ DA LIBERDADE



É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.

Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre…
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Carlos Marighella

quinta-feira, 19 de abril de 2012

À Sombra de um Delírio Verde


À Sombra de um Delírio Verde from Mídia Livre on Vimeo.
Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.
Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.
Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.
Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

À Sombra de um Delírio Verde

Tempo: 29 min
Países: Argentina, Bélgica e Brasil
Narração: Fabiana Cozza
Direção: An Baccaert, Cristiano Navarro, Nicola Mu
thedarksideofgreen-themovie.com

Crises do Capitalismo (David Harvey) RSAnimate - legendado

Enviado por TheLeportal em 15/09/2011
Nesta animação da RSA, o renomado acadêmico David Harvey questiona se não é hora de olhar para além do capitalismo, para uma nova ordem social que nos permita viver dentro de um sistema que realmente poderia ser responsável, justo e humano?

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=OJ6xlbfApAM

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pouca disposição para o conflito

Foto da época do Massacre de Eldorado dos Carajás que ontem dia 17 completou  16 anos sem que  os envolvidos fossem condenados pela morte de 21 sem terras no Pará.

União prefere fazer regularização fundiária em terras públicas a enfrentar latifundiários e a base aliada ruralista
10/04/2012

Aline Scarso,
da Redação  

O Estado brasileiro prefere fazer a regularização fundiária em terras públicas a desapropriar latifúndios no campo brasileiro para fins de reforma agrária. Isso é o que revelam os dados do Data Luta, sistematizados pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos da Reforma Agrária da Unesp (Universidade Estadual Paulista). De 1985 a 2009, 57% da área destinada à criação de novos assentamentos foram oriundas da política de regularização fundiária.

Já a desapropriação de imóveis improdutivos correspondeu a 31% das terras incorporadas. O reconhecimento de áreas listadas por estados e municípios, a compra e a doação de terras completam o quadro, correspondendo respectivamente a 9%, 2% e 1% das ações no período.             
Segundo o especialista em geografia agrária e um dos coordenadores do Data Luta, Bernardo Mançano Fernandes, a regularização fundiária ocorre predominantemente na Amazônia, em terras ocupadas por posseiros. “O governo só trabalha com a desapropriação de latifúndios quando há uma situação de conflito intenso, quando as famílias ocupam e reocupam o local. Caso contrário, trabalha na regularização fundiária, no reconhecimento e no assentamento de famílias em lotes abandonados”, explica.

A regularização de terras públicas ocupadas é uma via mais fácil para o Executivo, já que o PMDB – um dos representantes dos interesses ruralistas no Congresso Nacional – é um forte aliado para a governabilidade. Assim, ao invés de enfrentar o setor, a União vem se submetendo à ordem imposta pelos latifundiários ao campo brasileiro. “Com essa política de alianças, o governo Dilma não consegue avançar. Nós sabemos que tem muitos setores na política de alianças que não defendem a reforma agrária, é um retrocesso para a questão fundiária no Brasil”, avalia Elisângela Araújo, coordenadora geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf).

O fato é que além de não priorizar a desapropriação de terras, o governo brasileiro tem cedido até mesmo as terras públicas para latifundiários e o agronegócio. Exemplo bastante conhecido no país é o da empresa Sucrocítrico Cutrale, que domina 10 mil hectares da União em Iaras, no interior de São Paulo, em área que foi prometida à reforma agrária.

Também no Pontal do Paranapanema, segundo Mançano, há pelo menos 600 mil hectares de terras públicas griladas por usineiros e que poderiam assentar 20 mil famílias. Para a mesma região, o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), propõe o projeto de lei 687/ 2011, que altera lei de 2003 sobre a posse de terras devolutas que, se aprovada, beneficiará principalmente grandes fazendeiros.

Outro exemplo é o Pará, onde o Estado firmou um acordo com o fazendeiro Benedito Mutran e vendeu por R$ 400 mil a área onde estava ilegalmente localizada a fazenda Mundo Novo. A mesma fazenda foi vendida por Mutran para a empresa Agropecuária Santa Bárbara Xinguara S/A, pertencente ao grupo Opportunity que tem como um de seus sócios o banqueiro Daniel Dantas. O valor do negócio foi de R$ 5 milhões – 13 vezes maior do que negociado com o Estado.

Norte e Nordeste
Apesar da pressão dos movimentos sociais com a ocupação de terras nas regiões Sul e Sudeste, são as regiões Norte e Nordeste que concentram o maior número de famílias assentadas. De acordo com o Incra, nos últimos 17 anos, 41,5% das famílias conseguiram lotes no Norte, 33% no Nordeste, 17% no Centro Oeste, 4,5% no Sudeste e 4% no Sul.

“Se o governo construir uma meta, ele deveria incorporar nela a distribuição regional da reforma agrária. Há um déficit muito grande nas regiões Sul e Sudeste porque a União tem que comprar terra e as terras são mais caras. É onde o agronegócio está mais instalado e onde há também mais pressão popular”, explica Mançano.

Segundo ele, a concentração maior na região Norte se deve à abertura da fronteira agrícola na Amazônia tanto para o agronegócio quanto para a agricultura camponesa. “Quando essa fronteira se fechar e não existir mais maneiras de se avançar contra as florestas, grandes e pequenos entrarão em conflito por mais áreas. Daí a União terá que se posicionar”, afirma.

E é o custo das terras no Sul e Sudeste acaba inviabilizando a desapropriação. É o que pensa Alexandre Conceição, integrante da Coordenação Nacional do MST. “O governo criou um modus operandi: diz que não desapropria terra que tenha um custo maior de R$ 100 mil por família. Com avanço do agronegócio e com o dinheiro que as transnacionais tem jogado aqui, tem aumentado o valor da terra. É uma medida administrativa que não condiz com a realidade socioeconômica do país”, ressalta.


Jirau e a Revolução dos Orelhas-Secas

Crédito: Cicaf

Por Antônio Serpa do Amaral Filho

O movimento grevista explodiu no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau – distante cerca de 100 quilômetros da capital do Estado de Rondônia. Os operários gritavam por justiça e dignidade. Os patrões vociferavam por eficiência e produtividade. De um lado o Capital. Do outro, o Trabalho. Aproximadamente 20 mil homens estavam paralisados. Apenas os serviços essenciais foram mantidos em funcionamento – informava a empresa Camargo Correia. O aparelho policial atacou os grevistas. A tragédia era anunciada a cada momento. Todos temiam um quebra-quebra generalizado, a exemplo do que ocorreu no ano passado, atraindo as lentes e repórteres da imprensa nacional e internacional.

A maldição de Espártaco ronda o canteiro de obras. Diz a lenda, e o professor Dante Fonseca, que Espártaco era um escravo filho de outro escravo e que era um homem castigado pelos capatazes, pelo chicote e pelo trabalho árduo na minas de ouro do Império Romano. Um dia ele liderou uma histórica revolta contra o poderio de César. Que os homens trabalhadores de Jirau trabalham como escravos, aqui em Rondônia todos sabem, e uma boa parte finge que não sabe. Parece que só o Everton Leoni é que não sabe, por isso vive a defender com unhas e dentes as empresas construtoras das usinas, como se fosse um beneficiário direto do líquido leitoso que flui de uma das tetas profanas desse grupo empresarial.

Mas a miopia e o conservadorismo servil não é privilégio de Everton Leoni; os senhores juízes da justiça do trabalho parecem ser caolhos também. Acompanham a procissão dos cegos outros setores da sociedade organizada como a Assembléia Legislativa do Estado e o próprio Governo do senhor Confúcio Moura – que teve a infeliz idéia de doar, a título de isenção, a soma de quase um milhão de reais a essas paupérrimas empresas, que fecharam com o governo federal um negócio de 25 bilhões de reais para fazer essas malditas usinas. O Partido dos Trabalhadores fez ouvido de mercador ao clamor e à insurreição dos obreiros por quem deveria lutar.

Segundo fontes fidedignas, existem informações de que os 20 mil operários da obra estão em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas e desumanas jornadas de trabalho e péssimas condições de trabalho. Há denúncia de que existe epidemia de doença dentro da usina e não há atendimento adequado de saúde, que o transporte dos operários é de péssima qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais de 4.500 operários estão ameaçados de demissão. Essa é a realidade da vida que aqueles homens levam no canteiro de obra de Jirau.

Esta situação tem como principal responsável os donos da usina de Jirau, o Consórcio formado pela transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e pela Eletrosul. As revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada vez mais frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.

Há pouco tempo houve revolta na usina de Foz do Chapecó, também de propriedade da Camargo Corrêa, em 2010 houve a revolta dos operários da usina de Santo Antonio e agora temos acompanhado a revolta dos operários da usina de Jirau.

As empresas construtoras de Jirau são as mesmas que foram denunciadas em recente relatório de violação de Direitos Humanos, aprovado pelo Governo Federal, que constatou que existe um padrão de violação dos direitos humanos em barragens e de criminalização, sendo que 16 direitos têm sido sistematicamente violados na construção de barragens. Os atingidos por barragens e os operários tem sido as principais vítimas.

A empresa Suez, principal acionista de Jirau, é dona da Barragem de Cana Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é dona da usina de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. Essas duas hidrelétricas também foram investigadas pela Comissão Especial de Direitos Humanos em que foi comprovada a violação. Estas empresas tem uma das piores práticas de tratamento com os atingidos e com seus operários.

Em junho de 2010, o MAB já havia alertado a sociedade que em Jirau havia indícios e denúncias, que circularam na imprensa local, de que as empresas donas da Usina de Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer uma espécie de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa se estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.

No canteiro de obras os operários são chamados de “orelhas-secas”. Pois bem, a revolta dos Orelhas-Secas é reflexo desse autoritarismo e da ganância pela acumulação de riqueza através da exploração da natureza e dos trabalhadores.

Prova desse autoritarismo e intransigência é que estas empresas se negam a dialogar com os atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus direitos negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região se instalou os maiores índices de prostituição e violência.

Em 2011, O Movimento dos Atingidos por Barragens/MAB completa 20 anos de luta e os atingidos comemoram a resistência nacional, mas também denunciam que essas empresas não tem compromisso com a população atingida e nem com seus operários. Recebem altas taxas de lucro que levam para seus países e o povo da região fica com os problemas sociais e ambientais.

O MAB uma vez já veio a público exigir o fim da violação dos direitos humanos em barragens. O que todo esperam é que as reivindicações por melhores condições de trabalho e vida dos operários sejam atendidas.

Os grevistas de Jirau não são orelhas-secas, são trabalhadores brasileiros lutando desesperadamente com o grande capital por um naco do pão da dignidade. Não são vândalos, são escravos do capitalismo financeiro que, inspirados talvez na insurreição de Espártacus, como nos ensina o professor Dante Ribeiro Fonseca, declaram guerra à opressão, à escravidão, à exploração e à humilhação a que cotidianamente são submetidos. Não são animais, homens é que são, pensantes, amantes, crentes, viventes e esperançosos - como todos nós. Toquem o meu coração. Façam a revolução.
*Antônio Serpa do Amaral Filho é jornalista de Rondônia

terça-feira, 17 de abril de 2012

EM DEFESA DA RAIVA JUSTA


para as companheiras da Via Campesina


Destruíram tudo!
Cada semente,
anos de experiências,
cada descoberta, cada inovação.


Tudo foi pisoteado,
Com raiva, com ódio,
Com desprezo, irresponsavelmente...


Que desconsideração.


Não eram mais que brotos,
Mudas de futuro frágeis,
sonhos que germinavam,
sementes que ansiavam crescer.


Como é possível destruir
mais de vinte anos
mais de vinte anos
de esforços e sacrifícios?


O governo Lula
destruiu vinte anos
de sonhos e sementes
de mudas de futuro!


Que desconsideração.


Ainda bem
que temos mulheres
viveiros de sementes
preservadas.


Ainda bem
que mulheres camponesas
ainda miram o inimigo
e atacam.


Com raiva
Com ódio
Com determinação


Elas carregam nossos vinte anos
no ventre fecundo
elas salvam nossos sementes
do solo infértil da acomodação.


Mauro Luis Iasi - Metaamorfases

AS VASTAS TERRAS SEGUEM INFÉRTEIS


Para os companheiros do MST presos

As vastas terras seguem inférteis.
O planeta segue impassível sua jornada
Rodando entorno do corpo em chamas do sol,
boiando ele mesmo sem terra no vasto nada.


As vastas terras seguem inférteis.
Pelo carinho das mãos abandonadas,
seguem famintas das sementes
sem os beijos e abraços das enxadas.


As vastas terras seguem inférteis
e a sede dos frutos segue calada.
As bocas famintas guardam seu canto
nos lábios secos das bocas fechadas.


As vastas terras seguem inférteis,
mas meus companheiros estão nas estradas
sob as lonas se aquecem com seus cantos
de canto em canto em caminhada.


As vastas terras seguem inférteis
mas fértil renasce o dia em cada alvorada.
Em cada manhã por sonhos ocupada
em cada pedaço de terra com cercas derrubadas.


Para que as terras sigam inférteis
a vida é a cada dia assassinada
e as prisões abrem suas bocas
para engolir meus camaradas.


As vastas terras não seguirão inférteis
companheiros presos em celas fechadas
serão nossas sementes aguardando a colheita
quando colhermos os frutos da luta plantada.

Mauro Luis Iasi - Metamofases

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Manifesto convocatória ao VI Congresso da UJC!


JUVENTUDE QUE OUSA LUTAR CONQUISTA O PODER POPULAR

Neste início de século, presenciamos no trabalho, nas ruas, nas escolas e Universidades, nos meios de comunicação ou até mesmo em casa, uma infinidade de violências que atentam contra a integridade moral e física da juventude e dos trabalhadores. A maioria de nós, cada um de sua forma, rejeita, nega a violência. A negação pode assumir muitas formas: pode ser um murmúrio desarticulado de descontentamento, a de lágrimas de frustração, a de um grito de fúria ou um rugido confiante. Pode ser ainda de um desassossego, de uma confusão, de um desejo ou apenas de uma inexplicável vibração crítica.

Os caminhos da contra-hegemonia popular na contestação ao atual modelo de Sociedade, nos levam a ampliar nosso nível de entendimento da realidade local e internacional, bem como, nos determina um aprofundamento de nossa compreensão dos diversos métodos e metodologias científicas. É frente a essa realidade e a esses desafios que se realizará de 12 a 15 de julho de 2012 em Niterói-RJ, o Congresso Nacional da UJC - União da Juventude Comunista, com o intuito de pensar a organização da resistência ao projeto autoritário que busca se consolidar junto à juventude brasileira, ao mesmo tempo de avançar na construção da alternativa a esse projeto – a Revolução Socialista, na perspectiva do comunismo. O VI Congresso da UJC tem como tarefa materializar o chamado de “estudar, organizar e lutar”. Irá reafirmar e debater o caminho da construção forte e vigorosa dos jovens comunistas em meio aos movimentos sociais, reforçando a atuação em entidades de base presentes e combativas, e em ações e campanhas por todo país, permeada pela disposição, alegria e espírito de luta que sempre caracterizou a juventude brasileira. As questões que afligem os jovens trabalhadores, o movimento estudantil, questões transversais, o debate de educação e universidade popular, bem como as ações nacionais unificadas com outras organizações populares e anticapitalistas são o centro desse Congresso.

Estudar e avançar em nossa capacidade de perceber a realidade é de fundamental importância para que possamos contribuir para a criação de mecanismos alternativos, populares e ecologicamente viáveis. Lutar pela Sociedade que queremos exige ainda aumentar nosso contingente e pressão militante em estreita aliança com os movimentos sociais. Conclamamos a militância da UJC a debater as teses em suas bases, a afirmarem sua convicção revolucionária em grandes e aprofundadas etapas estaduais, e a se mobilizarem para o que promete ser o maior Congresso da história da UJC no pós-redemocratização.

Nosso grito e rebeldia são contra as impossibilidades da produção e reprodução de um viver em sua plenitude. Rebelamos-nos contra o Modo de Produção Capitalista e seus vigilantes eunucos da imaginação, castradores da liberdade e carrascos do fazer emancipador, alienados alienantes incapazes de construir o futuro que com certeza virá.

Para afirmar a liberdade e eliminar as injustiças sociais é que gritamos e lutamos. Propomos ignorar ignorância e construir o Poder Popular, foco estratégico que alimenta a chama da inspiração crítica, atropelando os ditames autoritários baseados em sentimentos majoritariamente refratários aos valores do intelecto. Resgatar as raízes da criação libertadora é a tarefa impreterível que se impõe. Estar sempre à procura da centelha mágica e imponderável da inspiração como ato transformador e revolucionário.
Fazer o novo emancipatório; nossas armas são a audácia, a utopia e a incessante busca pela plenitude da humanidade castrada pelo capital.
Viva o VI Congresso da UJC!                                       
Viva os 85 anos da União da Juventude Comunista!
UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA