UJC
Após quatro meses de greve,
professores, técnicos administrativos em educação e estudantes se preparam para
voltar às suas atividades, não sem a certeza que uma dura realidade os aguarda
e das difíceis lutas que ainda estão por vir.
Durante todo este tempo, a
União da Juventude Comunista (UJC) apoiou e participou da construção desse
movimento nacional de greve, construindo cotidianamente a greve junto às demais
categorias nas universidades onde está organizada, assim como compondo os comandos
locais e nacional de greve.
A desestruturação da carreira
docente, as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos professores e
servidores, o aumento das terceirizações, assim como salas de aulas lotadas,
falta de professores, parca assistência estudantil, ausência de restaurantes
universitários e instalações precárias figuram entre os principais problemas
enfrentados no cotidiano de todos aqueles que passam pela universidade e foram
umas das principais reivindicações do movimento.
A precarização da educação
brasileira não deve ser entendida somente como um problema de ordem
administrativa ou de financiamento, mas algo que vai muito além. O sucateamento
da educação pode ser traduzido numa concepção de Estado que há anos vem sendo
implantado no Brasil, que preza por uma lógica de mercado e por parcerias com
empresas privadas, colocando nitidamente a Universidade sob interesses
privados.
Se voltarmos nossas memórias
alguns anos atrás, poderemos nos lembrar de uma série de reformas universitárias
no período FHC que expandia as instituições privadas e controlava as verbas
públicas para o ensino superior. Tal política, aprofundada, sobretudo, no
governo Lula com programas de transferência de verba pública para as
instituições privadas, como o FIES e o Prouni, hoje levam a um panorama onde
76,6% dos estudantes do ensino superior estão na rede privada, enquanto apenas
23,4% estão em universidades públicas que estão cada vez mais sucateadas.
Se há alguns anos já se
delineava um nítido processo de favorecimento ao capital privado na expansão do
ensino particular, nos últimos anos esses interesses penetraram sem nenhum
pudor na rede pública. Seja através da terceirização de grande parte de seus
serviços, da existência de fundações privadas que buscam captar verbas na
iniciativa privada ou de privatizações dos HU’s através das Empresas
Brasileiras de Serviços Hospitalares (EBSERH), o fato é que a Universidade
pública se transformou no mais novo balcão de negócios do país.
Além desse processo de
sucateamento e privatizações, a Universidade pública se mostra, de uma vez por
todas, como um centro de reprodução do saber, da formação profissional e da
ideologia dominante. O que em tese deveria ser um espaço para a formação do
senso crítico e para a produção de um conhecimento voltado para a classe
trabalhadora, mais do que nunca, vem funcionando de acordo com interesses
privados; caso contrário, como justificar que certos cursos de agronomia
servindo diretamente às empresas de agronegócios em um país onde reina a
concentração de terras? Como explicar projetos de extensão que se colocam ao
dispor de grandes empresas, perdendo assim o caráter de extensão? Ou então,
como justificar cursos de arquitetura onde a maior preocupação seja elaborar
projetos de shoppings centers e prédios de luxos, enquanto grande parte da
população sequer tem um teto para morar?
Tendo em vista essas
reflexões, a União da Juventude Comunista não tem a ilusão de alterar esses
problemas da Universidade sem superar por completo a inserção das relações
sociais e produtivas próprias da ordem social em que vivemos e que são base de
um número sem fim de problemas que afetam a educação brasileira e seu caráter.
Isso significa que não devemos
nos restringir a uma luta reativa ou a simples defesa de uma educação pública,
gratuita e de qualidade, mas, sobretudo, de uma educação popular. Significa
também que devemos apoiar e ir além de uma simples luta pelos 10% do PIB para
educação pública, já!, afinal, de que valeria um aumento de investimentos nesse
modelo de universidade senão para aprofundar esse sistema pautado pela lógica
do mercado?
Ao mesmo tempo em que a greve
ganhava apoio e adesão em todas as Universidades, o governo fechava os olhos
para os problemas reais, ora negando o diálogo com os setores em greve, ora
apresentando uma proposta rebaixada aos professores. Com os estudantes o
governo tomou a mesma atitude intransigente, negando receber o Comando Nacional
de Greve dos Estudantes (CNGE), composto por delegadas e delegados tirados em
assembléias nas universidades, optando, ao invés disso, em falar diretamente
com a UNE (que não apoiou, na prática, as greves), num claro sentido de
desmobilizar o movimento grevista.
Ainda que a maior parte das
reivindicações dos setores em greve não tenha sido atendida, o movimento de
greve tem a potencialidade de alçar ganhos políticos e organizativos para além
das demandas mais imediatistas, o que sem dúvida será o nosso maior desafio a
partir de agora. O enfraquecimento do PROIFES e o fortalecimento do ANDES, assim
como de suas seções locais, já são um exemplo desses ganhos.
No movimento estudantil,
acreditamos que este ganho só será dado se o mesmo for referendado através de
suas bases e não ter como porta-vozes entidades atreladas à ordem que servem
como correia de transmissão dos interesses do governo às Universidades, mas sim
por um movimento que esteja pautado na real demanda dos estudantes e
trabalhadores e disposto a lutar lado a lado aos movimentos sociais combativos,
formulando um novo projeto. Em outras palavras, devemos, de uma vez por todas,
debater coletivamente um projeto de universidade que esteja balizado nas
demandas concretas dos trabalhadores e que contribua para um processo mais
amplo de transformação social; desta forma, levantamos a bandeira da
UNIVERSIDADE POPULAR.
Sabemos que esse caminho não
será curto nem fácil, mas vislumbramos na greve uma excelente oportunidade para
o iniciarmos. Isso significa que em todos os espaços de luta devemos criar
mediações que tensionem contra a lógica de mercado nas universidades, seja
contra as fundações privadas; pelo aumento das verbas governamentais para a
assistência estudantil; pela luta por uma Universidade verdadeiramente
democrática, não somente em suas instituições internas, mas, sobretudo, na
produção de conhecimento; contra o convênio com empresas privadas e na luta
pela reestruturação do plano de carreira para os docentes.
Para tanto, esperamos construir junto a todos os
setores e organizações, um calendário unificado de lutas para os próximos períodos
na perspectiva de lutar por uma Universidade pública, gratuita, democrática, de
alta qualidade e popular!
COORDENAÇÃO NACIONAL DA UJC
OUTUBRO DE 2012
http://ujc.org.br/?p=373
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