segunda-feira, 2 de abril de 2012

Com a crise na Europa, mafiosos oferecem crédito


Obs: as opiniões desse jornal destoam totalmente da linha política do PCB, mas uma notícia como essa vale pela reflexão referente ao tamanho do problema existente na Europa por conta da crise financeira.

Organizações criminosas substituem bancos na Itália, enquanto a Grécia ressuscita o escambo e Portugal e Espanha ampliam a informalidade 
Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo

MILÃO - Na Itália, a Máfia ocupa o espaço deixado por bancos - que hesitam em voltar a emprestar - e fornece créditos a empresários. Na Grécia, associações criam moedas paralelas ao euro, enquanto em Portugal a informalidade explode e, na Espanha, o número de trabalhadores sem carteira assinada bate recordes.
Entrando em seu quinto ano consecutivo de crise, a Europa vê o ressurgimento da economia subterrânea em vários países, principalmente aqueles afetados por duras medidas de austeridade e por uma proliferação de novos impostos.
Segundo um levantamento realizado pela organização italiana SOS Impresa, com sede em Palermo, os diferentes grupos mafiosos italianos movimentam hoje cerca de 140 bilhões na economia local.
"Com uma liquidez de 65 bilhões, a realidade é que a Máfia se transformou no maior banco da Itália", estima a instituição, criada para denunciar as práticas mafiosas de grupos criminosos.
De acordo com a entidade, antes mesmo da crise iniciada em 2008, após a quebra do banco americano Lehman Brothers, os grupos como Cosa Nostra, Camorra e ‘Ndrangheta controlavam 7% do Produto Interno Bruto (PIB) italiano.
Há algumas semanas, uma operação da polícia italiana mostrou os atuais tentáculos da Máfia, com o envolvimento de magistrados e funcionários públicos.
O problema é que, com a chegada da crise e a decisão dos bancos tradicionais de fechar suas torneiras, pequenos empresários estão numa situação de fragilidade, o que permite à Máfia desembarcar oferecendo créditos e ajuda, em troca de favores e do silêncio absoluto dos envolvidos.
"As vítimas são normalmente pessoas que trabalham no tradicional setor do comércio, seja com alimentos, roupas, floriculturas ou lojas de móveis", afirma o relatório. "Essas são categorias que, como muitas outras, estão pagando o preço da crise econômica."
Escambo. Se na Itália a crise se traduz no fortalecimento de grupos criminosos, na Grécia o fenômeno da economia subterrânea ganha outra dimensão.
Algumas cidades decidiram criar seus próprios mercados informais, enquanto outros grupos estabeleceram até mesmo moedas alternativas ao euro, para escapar ao fato de que muitas famílias simplesmente não têm o mesmo volume de dinheiro que há quatro anos.
Pela Grécia, existem pelo menos uma dúzia de esquemas alternativos criados por associações de bairro e pequenas cidades, para garantir o fornecimento de serviços e bens entre a população, sem necessariamente usar a moeda única europeia.
O mais notório deles é o TEM, sigla em grego para Unidade Alternativa Local, uma espécie de moeda virtual. Um dos locais que mais têm usado o esquema é a cidade de Volos, onde 20% da população encontra-se desempregada.
Mas, com a população ainda mantendo suas técnicas e capacidades profissionais, a opção foi criar um esquema para trocar serviços, sem necessariamente o uso de euros.
Para fazer parte do esquema, um profissional se registra em um site e ganha créditos quanto mais serviços prestar à comunidade. Com esses créditos, pode trocar por outros serviços. Até mesmo uma espécie de cheque foi criado para permitir o pagamento por bens e serviços.
Professores, eletricistas, barbeiros, técnicos e veterinários têm usado amplamente o serviço, além de padarias e pequenos supermercados. Na cidade, a nova moeda ganhou tal dimensão que comerciantes passaram a aceitar tanto euros como os TEMs.
Informalidade. Tanto o caso grego como italiano escancaram o fato de que, depois de 30 anos de retração, a economia informal europeia volta a se expandir.
Na Espanha, esse crescimento foi de 30% entre 2008 e 2010, o auge da crise. No caso da economia espanhola, a constatação foi a explosão do número de trabalhadores sem carteira assinada.
O desemprego no país superou a marca de 20%, e muitos optaram por aceitar trabalhar por salários mais baixos e sem proteção social, mas pelo menos mantendo seus empregos.
Em Portugal, outro país afetado pela crise e pelas medidas de austeridade, dados oficiais revelam que a economia paralela já chega a 24,5% do PIB do país em 2011. Em três anos, a elevação foi de 4 pontos porcentuais.
Segundo um estudo da Universidade do Porto, US$ 52,6 bilhões já são movimentados na economia paralela do país, metade de todo o dinheiro emprestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia para resgatar o país.
A constatação dos economistas é de que, se impostos fossem cobrados da economia paralela, o déficit fiscal português poderia cair dos atuais 9,1% do PIB para apenas 2,9% do PIB, recolocando o país dentro das regras de estabilidade do euro.
Tanto Portugal quanto Grécia e Itália passaram nos últimos anos a liderar o ranking das maiores economias paralelas entre os países ricos, onde a média é de 18% do PIB em esquemas informais. Há 20 anos, a economia paralela de Portugal era de apenas 9,3% do PIB.


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