Obs: as opiniões
desse jornal destoam totalmente da linha política do PCB, mas uma notícia como
essa vale pela reflexão referente ao tamanho do problema existente na Europa
por conta da crise financeira.
Organizações criminosas
substituem bancos na Itália, enquanto a Grécia ressuscita o escambo e Portugal
e Espanha ampliam a informalidade
Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
MILÃO - Na Itália,
a Máfia ocupa o espaço deixado por bancos - que hesitam em voltar a emprestar -
e fornece créditos a empresários. Na Grécia, associações criam moedas paralelas
ao euro, enquanto em Portugal a informalidade explode e, na Espanha, o número
de trabalhadores sem carteira assinada bate recordes.
Entrando em seu quinto ano
consecutivo de crise, a Europa vê o ressurgimento da economia subterrânea em
vários países, principalmente aqueles afetados por duras medidas de austeridade
e por uma proliferação de novos impostos.
Segundo um levantamento realizado
pela organização italiana SOS Impresa, com sede em Palermo, os diferentes
grupos mafiosos italianos movimentam hoje cerca de 140 bilhões na economia
local.
"Com uma liquidez de 65
bilhões, a realidade é que a Máfia se transformou no maior banco da
Itália", estima a instituição, criada para denunciar as práticas mafiosas
de grupos criminosos.
De acordo com a entidade, antes
mesmo da crise iniciada em 2008, após a quebra do banco americano Lehman Brothers,
os grupos como Cosa Nostra, Camorra e ‘Ndrangheta controlavam 7% do Produto
Interno Bruto (PIB) italiano.
Há algumas semanas, uma operação
da polícia italiana mostrou os atuais tentáculos da Máfia, com o envolvimento
de magistrados e funcionários públicos.
O problema é que, com a chegada
da crise e a decisão dos bancos tradicionais de fechar suas torneiras, pequenos
empresários estão numa situação de fragilidade, o que permite à Máfia
desembarcar oferecendo créditos e ajuda, em troca de favores e do silêncio
absoluto dos envolvidos.
"As vítimas são normalmente
pessoas que trabalham no tradicional setor do comércio, seja com alimentos,
roupas, floriculturas ou lojas de móveis", afirma o relatório. "Essas
são categorias que, como muitas outras, estão pagando o preço da crise
econômica."
Escambo. Se na Itália a crise
se traduz no fortalecimento de grupos criminosos, na Grécia o fenômeno da
economia subterrânea ganha outra dimensão.
Algumas cidades decidiram criar
seus próprios mercados informais, enquanto outros grupos estabeleceram até
mesmo moedas alternativas ao euro, para escapar ao fato de que muitas famílias
simplesmente não têm o mesmo volume de dinheiro que há quatro anos.
Pela Grécia, existem pelo menos
uma dúzia de esquemas alternativos criados por associações de bairro e pequenas
cidades, para garantir o fornecimento de serviços e bens entre a população, sem
necessariamente usar a moeda única europeia.
O mais notório deles é o TEM,
sigla em grego para Unidade Alternativa Local, uma espécie de moeda virtual. Um
dos locais que mais têm usado o esquema é a cidade de Volos, onde 20% da
população encontra-se desempregada.
Mas, com a população ainda mantendo suas técnicas e
capacidades profissionais, a opção foi criar um esquema para trocar serviços,
sem necessariamente o uso de euros.
Para fazer parte do esquema, um
profissional se registra em um site e ganha créditos quanto mais serviços
prestar à comunidade. Com esses créditos, pode trocar por outros serviços. Até
mesmo uma espécie de cheque foi criado para permitir o pagamento por bens e
serviços.
Professores, eletricistas,
barbeiros, técnicos e veterinários têm usado amplamente o serviço, além de
padarias e pequenos supermercados. Na cidade, a nova moeda ganhou tal dimensão
que comerciantes passaram a aceitar tanto euros como os TEMs.
Informalidade. Tanto o caso
grego como italiano escancaram o fato de que, depois de 30 anos de retração, a
economia informal europeia volta a se expandir.
Na Espanha, esse crescimento foi
de 30% entre 2008 e 2010, o auge da crise. No caso da economia espanhola, a
constatação foi a explosão do número de trabalhadores sem carteira assinada.
O desemprego no país superou a
marca de 20%, e muitos optaram por aceitar trabalhar por salários mais baixos e
sem proteção social, mas pelo menos mantendo seus empregos.
Em Portugal, outro país afetado
pela crise e pelas medidas de austeridade, dados oficiais revelam que a
economia paralela já chega a 24,5% do PIB do país em 2011. Em três anos, a
elevação foi de 4 pontos porcentuais.
Segundo um estudo da Universidade
do Porto, US$ 52,6 bilhões já são movimentados na economia paralela do país,
metade de todo o dinheiro emprestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e
pela União Europeia para resgatar o país.
A constatação dos economistas é
de que, se impostos fossem cobrados da economia paralela, o déficit fiscal
português poderia cair dos atuais 9,1% do PIB para apenas 2,9% do PIB,
recolocando o país dentro das regras de estabilidade do euro.
Tanto Portugal quanto Grécia e Itália passaram nos últimos
anos a liderar o ranking das maiores economias paralelas entre os países ricos,
onde a média é de 18% do PIB em esquemas informais. Há 20 anos, a economia
paralela de Portugal era de apenas 9,3% do PIB.
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