29/08/2012
Silvia Ribeiro
Como serpente que morde a própria cauda, o
sistema alimentar industrial – que é o principal causador das mudanças
climáticas globais -, sacode-se pela perda das colheitas devido à intensa seca
nos Estados Unidos. Em algumas áreas, embora haja colheita, ela não pode ser
usada porque, por falta de chuvas, as plantas não processam os fertilizantes
sintéticos e se tornam tóxicas para o consumo. Tudo está relacionado ao mesmo
sistema industrial: sementes uniformes e sem biodiversidade, com agrotóxicos e
fertilizantes sintéticos, com alto uso de transportes, energia e petróleo – e
portanto com alta emissão de gases de efeito estufa -, e controlado por
multinacionais.
No caso do milho, a escassez se exacerba por que
40% da produção nos Estados Unidos são destinadas ao etanol, ou seja, para
alimentar carros em vez de gente.
Ao serem os Estados Unidos um dos principais exportadores mundiais de milho, soja e trigo, juntamente com o fato de que 80% da distribuição mundial de cereais está nas mãos de quatro multinacionais, que gerenciam o abastecimento para obter mais lucros, a queda de produção nesse país tem efeito dominó sobre o mercado global, onde os preços dos alimentos estão disparados. Além dos grãos, sobem os preços das aves, suínos e reses, já que mais de 40% da produção de cereais do mundo é utilizada como forragem para a criação industrial confinada de animais. É outro absurdo do mesmo sistema agroindustrial, já que seria muito mais eficiente usar os cereais para alimentação humana e consumir menos carne, ou que as criações fossem em pequena escala com forragens diversificadas.
Ao serem os Estados Unidos um dos principais exportadores mundiais de milho, soja e trigo, juntamente com o fato de que 80% da distribuição mundial de cereais está nas mãos de quatro multinacionais, que gerenciam o abastecimento para obter mais lucros, a queda de produção nesse país tem efeito dominó sobre o mercado global, onde os preços dos alimentos estão disparados. Além dos grãos, sobem os preços das aves, suínos e reses, já que mais de 40% da produção de cereais do mundo é utilizada como forragem para a criação industrial confinada de animais. É outro absurdo do mesmo sistema agroindustrial, já que seria muito mais eficiente usar os cereais para alimentação humana e consumir menos carne, ou que as criações fossem em pequena escala com forragens diversificadas.
A criação industrial confinada e massiva de
animais é, além de tudo, a origem de epidemias como a gripe suína e
aviária, que por sua vez geram escassez e aumento de preços, como temos visto
recentemente no México, com o aumento do preço dos ovos por um surto de gripe
aviária.
Os que mais sofrem com os aumentos de preços são os mais pobres,
principalmente os urbanos, que usam 60% de sua renda na alimentação.
Pelo contrário, a vintena de multinacionais que
controlam o sistema alimentar agroindustrial (da Monsanto à Wall Mart, passando
por Cargill, ADM, Nestlé e algumas mais), as que controlam sementes e matrizes
de criação, os agrotóxicos, a compra, a distribuição e o armazenamento de
grãos(também para biocombustíveis), os processadores de carnes, alimentos e bebidas,
assim como os supermercados, são os responsáveis pela crise, mas blindaram-se
contra seus efeitos, transferindo os prejuízos para os pequenos produtores, aos
consumidores e ao orçamento público. Para elas, o caos climático e a escassez
não significam perdas, mas sim aumento de lucros, como acontece com as
sementes, agrotóxicos e fertilizantes que se tornam a vender, ou com as
empresas que armazenam cereais e os açambarcam, especulando com eles,
vendendo-os mais caros, ou com os produtos nos supermercados, cujos preços
aumentam muito mais do que a proporção no início da cadeia.
O caso do milho no México é ilustrativo. Apesar
de os agricultores do norte do país afirmarem terdois milhões de toneladas
para vender, recentemente foram importadas 1,5 milhões de toneladas
(transgênicas) dos Estados Unidos, e por outro lado, serão vendidas 150 mil
toneladas a El Salvador e outra partida à Venezuela. Anteriormente, tinham sido
compradas meio milhão de toneladas da Àfrica do Sul. Absurdo para o clima,
pelos transportes desnecessários, e brutal contra a produção nacional.
Questionado, o Secretário de Economia, Bruno Ferrari (anteriormente funcionário
da Monsanto), lavou as mãos, alegando que era uma decisão de empresas privadas.
Na realidade, como explica Ana de Ita, do Centro
de Estúdios para el Campo Mexicano (Ceccam), ocorre que no contexto das
políticas para liberalizar a produção agrícola nacional, que precederam a
assinatura do TLCAN (Tratado de Livre Comércio da América do Norte – N. do T.),
desmantelou-se a semi-estatal Compañia Nacional de Subsistências Populares
(Conasupo), que equilibrava o comércio interno de milho, entregando o mercado
interno às multinacionais – empresas como Cargill, ADM, Corn Products
International, juntamente com grandes criadores suínos, avícolas e
processadores industriais de “tortillas”. Estas compram a quem mais lhes
convenha, seja por que é mais barato ou por outras razões, como comprar de
agricultores com os quais tem contratos de produção nos Estados Unidos.
Esse tipo de empresas – e seus ex-funcionários no
governo, como Ferrari – são as que afirmam que é necessário importar milho,
porque a produção nacional não é suficiente. Contudo, nos últimos o México tem
produzido, nos últimos anos, em torno de 22 milhões de toneladas anuais, com o
consumo humano em torno das 11 milhões de toneladas anuais. São usadas em
derivados industriais outras 4 milhões de toneladas, restando ainda 7 milhões.
Contudo, as empresas importam de 8 a 9 milhões de toneladas anuais adicionais,
por que são usadas 16 milhões de toneladas anuais na criação industrial em
massa de aves e suínos – também de grandes empresas.
Se a criação fosse descentralizada e com
forragens diversas, haveria produção suficiente, sem epidemias e sem milho
transgênico de multinacionais, e muito mais fontes de trabalho local. A
importação de milho não é necessária ao México, pois é simplesmente um negócio
entre multinacionais, permitido e subsidiado pelo governo.
Se as políticas públicas protegessem a produção
agrícola e a pecuária diversificada e em pequena escala, com sementes próprias
e públicas nacionais, os riscos, - inclusive os climáticos -,teríamos produção
alimentar suficiente, acessível e de muito melhor qualidade.
Silvia Ribeiro é pesquisadora do Grupo ETC.
Publicado originalmente no Rebelión.
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
Silvia Ribeiro é pesquisadora do Grupo ETC.
Publicado originalmente no Rebelión.
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti
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