Quais seriam as chances reais de uma mudança revolucionária de regime no centro mundial do capitalismo
Em uma de suas colunas finais para CounterPunch (julho 6-8, 2012), 
Alexander Cockburn [fundador do site, recentemente falecido] gentilmente
 nos censurou, inclusive ele próprio, por termos nos lançado ao mar na 
esperança de investir nos movimentos do Occupy e outros protestos 
espontâneos de 2011. Muitos de nós – eu inclusive – estávamos tão 
empolgados pelos entusiasmo do momento que esquecemos algumas verdades 
bem estabelecidas. Como tantas vezes antes, as palavras de Cockburn 
deram voz ao que eu, juntamente com muitos outros, já tínhamos 
percebido, mas ainda não estávamos prontos para articular. Agora, no 
entanto, não há desculpa, chegou a hora de recordar o básico. Esse foi o
 ponto defendido por Cockburn. É, portanto, à sua memória que dedico 
esta apreciação de um dos mais castigados, mas também um dos clássicos 
maiores e mais relevantes do pensamento político.
Cerca de onze décadas se passaram desde a publicação de Que fazer?,
 de Vladimir Lênin. Esse panfleto notável – na verdade, um pequeno livro
 – foi uma intervenção política centrada nas questões que confrontavam o
 movimento social-democrata russo no início do século XX. Muito de seu 
conteúdo é peculiar ao tempo e ao local de sua elaboração.
Há, portanto, um sentido em que, a cada ano que passa, ele se torna 
cada vez mais anacrônico. Mesmo assim, não é apenas a questão posta no 
título do panfleto que permanece atual. Pois, embora não concebido como 
um tratado teórico, era evidente desde o início que ele pode ser lido 
como um todo e que, nessa qualidade, pode ser enormemente esclarecedor.
Ironicamente, isso nunca foi mais verdadeiro do que é agora, e não 
apenas em partes do mundo que, como a Rússia, em 1903, estão 
comparativamente “para trás.” A esquerda nos Estados Unidos de hoje, o 
que existe dela, faria bem se levasse em conta os princípios 
fundamentais do texto – adaptado, é claro, às circunstâncias que hoje 
enfrentamos.
O mais básico desses princípios é que, para uma mudança política 
fundamental, liderança e direção são indispensáveis. Para colocar a 
questão de uma forma que parece irremediavelmente anacrônica: massas 
insurgentes precisam de uma vanguarda revolucionária.
Revoltas e rebeliões estiveram sempre conosco, e será assim por muito 
tempo, enquanto durarem a injustiça e a opressão. Mas, para resultarem 
numa mudança real, surtos espontâneos de resistência não podem 
permanecer para sempre espontâneos.
Lênin escreveu como um revolucionário se dirigindo a revolucionários, 
num momento em que a Revolução Francesa era ainda o caso paradigmático. O
 entendimento comum, naquela época, era de que as revoluções – 
transformações fundamentais de instituições sociais, políticas e 
econômicas –, começam com a tomada do poder do Estado por meios 
insurrecionais (violentos). Onze décadas depois, há séria dificuldade em
 imaginar essa espécie de revolução na agenda de qualquer democracia 
liberal, muito menos na dos Estados Unidos.
Mas mudanças fundamentais nas estruturas básicas da sociedade – 
“mudanças de regime”, no sentido literal, não no sentido neoconservador 
da expressão – não estão fora de questão, mesmo nos Estados Unidos. “Um 
mundo melhor é possível” não é um tema vazio, apesar dos todos os 
esforços das corrrentes que moldam a opinião pública para transmitir a 
impressão de que ele o é.
A proposição de Lênin era que, sem uma organização revolucionária, 
moldada e informada pela teoria revolucionária, não pode haver prática 
revolucionária com êxito. Isso vale tanto para as transformações 
pacíficas – mas não obstante fundamentais – de estruturas institucionais
 básicas, quanto para os tipos de sublevações para as quais são 
emblemáticos “momentos revolucionários”, como a tomada da Bastilha ou do
 Palácio de Inverno.
Isso parece correto, especialmente à luz dos acontecimentos recentes – a
 partir da resistência no início de 2011 ao abuso republicano em 
Wisconsin e em outros lugares até os movimentos Ocuppy dos últimos 
outono e inverno. Parece certo que também vieram à luz a trajetória da 
primavera árabe contemporânea.
A ideia básica não é realmente específica do pensamento de Lênin ou 
mesmo das tradições maiores, marxistas e jacobinas, da onde o 
“leninismo” deriva. É um princípio de todos os esforços sérios para 
pensar através da dinâmica de mudança fundamental na era moderna.
Por que, então, descrevê-lo invocando o nome de uma figura histórica 
que caiu em menosprezo em todo o mundo? Isto é particularmente 
verdadeiro nos Estados Unidos, onde “Lênin” é um nome que os 
estadunidenses foram instruídos a insultar.
Uma razão é que Que fazer?, como todos os textos clássicos da 
teoria política, transmite ideias oportunas, não obstante o fato de que,
 como todos os outros, é uma criatura de seu tempo e lugar.
Nenhum clássico do pensamento político ocidental está mais ligado do que O Príncipe,
 de Maquiavel, a um mundo que já ficou muito longe. No entanto, todos 
entendem que, por sua autoridade, é útil e justo usar a palavra 
“maquiavélico” para descrever figuras políticas e posições de hoje. 
Ocorre o mesmo com Que Fazer?. Estes e outros textos canônicos são artefatos históricos, mas isso não é tudo o que eles são.
A razão mais importante é que a forma como uma posição política é 
descrita é em si um ato político. Na década de 1980, como foi se 
tornando cada vez mais obscuro o que é “marxismo” e como intelectuais 
públicos reacionários – “novos filósofos”, na França, neo-conservadores,
 nos Estados Unidos – fizeram o maior esforço para levar o marxismo ao 
descrédito, e num momento em que Ronald Reagan tagarelava acerca de 
“impérios do mal” enquanto ele próprio causava morte e destruição entre 
os povos da América Central, E. P. Thompson, o grande historiador da 
classe trabalhadora inglesa, quando perguntado se ainda era marxista, 
disse, em essência, que nas circunstâncias presentes a decência comum 
exigia que ele dissesse "sim".
É assim que é, hoje, com Lênin.
Nossa mídia identifica a política com disputas eleitorais e, para 
simplificar (e emburrecer) ainda mais, põe códigos de cor nos 
competidores – democratas são azuis, republicanos são vermelhos. Essas 
descrições se tornaram parte do vernáculo de nossa política.
É involuntariamente revelador que, quando falamos das cores 
identificadas com as tendências políticas, onde vermelho e preto e, do 
outro lado, branco e marrom figuram com destaque e onde azul não 
significa nada, que o nosso principal partido de esquerda tenha migrado 
tanto para a direita que a cor usada pela mídia para designá-lo, na 
medida em que podemos imputar um significado para ele, faz pouca justiça
 aos Democratas.
É ainda mais revelador que o nosso discurso político tenha ficado hoje 
tão degradado que os republicanos se deleitam em ser chamados de 
vermelhos. Ou assim é porque eles são ignorantes da história, incluindo a
 história do seu próprio partido tingido de vermelho, ou então esta é 
apenas uma faceta da vida do que Gore Vidal apropriadamente chama 
Estados Unidos da Amnésia.
Seja qual for o caso – e, uma vez que falamos de pessoas que há muito 
tempo deixaram de fazer sentido, ambas as hipóteses podem ser 
verdadeiras – é apropriado invocar o nome e o espectro do líder da 
Revolução Bolchevique, um vermelho verdadeiro, apenas para irritá-los.
E o que poderia ser mais salutar do que desafiar o farisaísmo afetado 
dos eleitores azuis com uma dose de política real, ou, mais 
precisamente, de teoria política lúcida.
E assim, no espírito de E. P. Thompson, eu diria que a simples decência
 exige que, onde a designação seja apropriada, deve-se usar o nome 
leninista, sempre que possível. Não só ele é substancialmente correto; 
melhor ainda, ele vai irritar aqueles que mais merecem ser irritados.
Em Que Fazer?, Lênin elaborou longamente sobre o que 
considerava ser a estrutura ideal de organização e postura estratégica 
do partido de vanguarda que ele queria construir. É por esse aspecto 
principalmente que Que fazer? é conhecido. Mas, novamente, o 
pensamento de Lênin sobre essas questões, por toda a sua atenção ao 
detalhe, era apenas uma variante, adequada às condições locais, da ideia
 geral de que, para que uma mudança fundamental seja possível, é preciso
 que haja uma força organizada que se dedique a fazê-la acontecer.
Por ter assumido a ideia de uma vanguarda política, o leninismo se 
tornou um ponto de referência nos debates entre marxistas e, nos debates
 entre marxistas e anarquistas e anarco-sindicalistas, a variante 
leninista veio a ser identificada com a visão mais geral. Esta é mais 
uma razão para adotar a designação, que chama o nosso discurso político 
a-histórico e despolitizado para mais perto da verdadeira história da 
esquerda.
Em círculos de esquerda, o termo “leninista” foi às vezes valorizado, 
às vezes, depreciado. Como tudo na política, dependeu das 
circunstâncias. Mas a contestação a respeito do nome, bem como sobre a 
ideia que o nome indicava, deu origem a confusão – particularmente nas 
circunstâncias em que os ativistas em grupos “espontaneístas” (ou 
groupuscules) reivindicaram para si uma identidade leninista. No 
rescaldo das erupções mundiais de 1968, esse tipo de confusão era comum 
na Europa Ocidental e, em menor medida, nos Estados Unidos.
Hoje, naturalmente, os debates sobre vanguardismo parecem arcaicos. É 
tentador dizer que isso acontece, porque o mundo que deu origem ao 
debate que não existe mais. No entanto, dizê-lo seria um grande erro.
Na política, como na psicologia individual, há sempre a perspectiva do 
que Freud chamou de “retorno do reprimido”. Isso é o que explica os 
acontecimentos de tipo “abalar o mundo” em 2011. O juri está ainda por 
vir sobre o que ocorrerá a partir dessas erupções. Mas, como deixou 
claro Cockburn, já passou mais de metade de 2012 e elas não estão com 
boa aparência.
Aqui, nos Estados Unidos, com uma eleição presidencial afundada em 
dinheiro acontecendo, uma disputa entre dois candidatos que poucos podem
 adotar e muito menos endossar, exceto para razões de mal menor –, e com
 uma série de eleições para cargos inferiores que são, na sua maior 
parte, igualmente pouco promissoras –,  a situação é especialmente 
terrível.
O problema geral é que o outro lado –  Lênin diria "o lado 
capitalista"; em 2011, essa designação foi corretamente substituída por 
“o 1%” –  é organizado. Ele tem o Estado para atender suas demandas, o 
que Marx chamou de um “comitê executivo” da classe dominante inteira. 
Nessas circunstâncias, “os 99%” não têm escolha senão responder, da 
melhor maneira possível, na mesma moeda, fazendo o possível para 
constituir um comitê executivo rival.
Esta é uma reivindicação geral e abstracta – sobre as estruturas 
políticas (na verdade, instituições coercitivas legitimadas) nas 
sociedades divididas em classes. Estados reais nas sociedades 
capitalistas admitem muitas variações sobre o tema geral. Eles podem 
responder mais ou menos aos interesses de alguns ou de todos os 99%.
O que eles não podem fazer, se Lênin e Marx e os pensadores que neles 
se apóiam estão certos, é liderar um processo que transforme as 
estruturas básicas econômicas, sociais e políticas que eles 
supervisionam. Estados capitalistas podem ser mais ou menos malignos, 
mas não podem se revolucionar.
Hoje em dia, estados capitalistas comparativamente beneficentes, do 
tipo que ainda sobrevivem em grande parte do oeste e norte da Europa, 
parecem muito bons quando vistos desde os EUA, apesar dos esforços 
incansáveis de políticos e especialistas de mídia para denegri-los. Os
 acontecimentos de 2011 foram sobre direitos de negociação dos 
sindicatos e crescente desigualdade. Embora não mais na ofensiva, a 
democracia social europeia e as suas semelhantes em outros lugares se 
sairam bem nesses acertos de contas.
Nós também fizemos isso, é claro, até final dos anos 1970, quando uma 
série de presidentes democratas se encarregou de implementar o ataque 
“bipartidário” ao New Deal e às instituições da Grande Sociedade, o que é
 comumente associado ao nome desse reacionário injustamente célebre, 
Ronald Reagan.
Jimmy Carter manteve o curso, Reagan e seus acólitos republicanos 
(idiotas todos) acreditaram naquilo, e Bill Clinton e Barack Obama o 
completaram. Alguém poderia pensar que os republicanos ficariam gratos. 
Mas eles estão muito focados em vencer as eleições para mostrar reações 
normais.
Na verdade, eles estão de tal modo focados em ganhar que não está ainda
 claro se eles agem tendo em mente os melhores interesses de seus 
patrões. Para sua sorte, os plutocratas donos deles são tão densos e tão
 gananciosos (curto prazo)  que nem notam, nem se importam!
Acordos constitucionais que asseguram que “nós, o povo” somos 
consultados apenas em intervalos periódicos de dois e quatro anos têm um
 papel a desempenhar no fiasco que agora aflige nossa cultura política. 
Assim também faz o nosso sistema partidário duopólico, composto de duas 
partes igualmente dedicadas aos interesses do 1%. E não devemos deixar 
de fora a maneira desavergonhada como o 1% compra influência política, 
em violação das normas democráticas, mas de acordo com a lei da terra, 
conforme determinado (“legislado”) por cinco juízes de direita da 
Suprema Corte.
Mesmo assim, antes que a nossa classe política e seus charlatões da 
mídia começassem a explorar as ansiedades geradas pelos ataques ao World
 Trade Center e ao Pentágono, nosso Estado era (relativamente) fraco. As
 vidas e comportamentos dos indivíduos eram em geral livres de 
interferência do Estado e imunidades legais e habituais que protegiam a 
liberdade de expressão e de atividade política. Essa é ainda a maior 
parte do cenário, apesar das depredações dos dois presidentes fora da 
lei que sofremos desde 9/11/2001.
Mas nosso Estado esteve sempre entre os mais fortes, garantindo que os 
poderes e privilégios de 1% (ou melhor, a fração de um por cento dos que
 realmente comandam o espetáculo) permaneçam imunes à contestação real. A
 esse respeito, a nossa foi sempre uma democracia excepcionalmente 
não-democrática.
Enquanto a necessidade de uma vanguarda política – não necessariamente,
 na verdade não idealmente, do tipo proposto por Lênin – é geral, a 
urgênciade algo que pudesse servir a esse propósito em nossas 
circunstâncias é particularmente urgente. Vivemos em uma democracia 
liberal com um componente liberal que continua bastante robusto. Mas, 
nos últimos anos, o componente democrático, nunca muito forte, recuou 
até quase o ponto de extinção.
Nessas circunstâncias, a via eleitoral para mudança e esperança – não 
apenas para uma ordem social e econômica radicalmente transformada, mas 
até apenas para uma ordem mais decente no quadro dos arranjos políticos,
 econômicos e sociais existentes – está mais do que habitualmente fora 
do alcance.
Essa é a verdadeira lição das eleições de 2008. Obama pode ser incapaz,
 e ele tem certamente decepcionado quase todo mundo que abrigou qualquer
 esperança em sua Presidência. Ele poderia ter feito muito melhor. Mas a
 ideia de que ele poderia começar a fazer o que alguns dos seus 
apoiadores imaginaram que ele faria era ilusória desde o início. Não é 
preciso ser um leninista de carteirinha para saber isso, mas os leitores
 sérios de Que Fazer? não poderiam deixar de notar – ou entender o porquê.
Se os movimentos Ocuppy se esgotarem inteiramente, como Cockburn 
previu, isto vai ilustrar o argumento de Lênin. Por um tempo, eles deram
 vida nova ao espontaneísmo. Na verdade, a falta de liderança ajudou 
nisso. Mas, finalmente, chegou a um ponto em que a escolha foi colocada:
 dar um salto quântico no modelo vanguardista que rejeitaram ou 
desaparecer. Uma vez que a primeira hipótese não aconteceu e quase 
certamente não acontecerá, esperemos que,conforme sumam na memória 
histórica, alguns elementos dos movimentos Ocuppy possam ser 
transformados em um legado útil.
O exemplo do Wisconsin
O fracasso da resistência contra o abuso de governadores reacionários, 
como Scott Walker, do Wisconsin, ilustra esse ponto também. Mas, embora 
esses movimentos, ao contrário dos movimentos Ocuppy que se seguiram, 
fossem apenas defensivos, eles são ainda mais reveladores. Deixam claro o
 “excepcionalismo americano”, que torna a indicação geral de Lênin ainda
 mais urgente para nós.
O caso de Wisconsin é especialmente instrutivo. Em democracias mais 
democráticas do que a nossa, uma mobilização espontânea da espécie que 
se desenvolveu na primavera de 2011 teria forçado uma crise política que
 forçaria o governo ou a recuar ou a cair. Nossas instituições não 
permitem que governos caiam.
No máximo, elas permitem que funcionários sejam demitidos. Em 
Wisconsin, destituir o governador e o vice-governador não era legalmente
 possível durante os meses após os protesto, porque, de acordo com a 
constituição do estado, os governantes não podem ser demitidos antes de 
terem cumprido pelo menos um ano de mandato.
E, assim, a mobilização espontânea ou poderia ter crescido, o que era 
impossível sem uma teoria “revolucionária” e uma prática a guiá-la, ou 
então, desembocar em um circo eleitoral habitual, com um democrata 
disputando com o governador republicano.
Assim que chegaram a esse ponto, todas as patologias habituais de nosso
 sistema eleitoral pipocaram. Em vez de apelar aos “independentes” que 
Obama e seus co-pensadores tanto lutam para agradar, os democratas foram
 para a disputa com o mais anódino dos candidatos. Enquanto isso, os 
doadores republicanos inundaram Walker com dinheiro, enquanto os 
democratas em nível nacional (Obama mais visivelmente) não poderiam 
sequer aparecer. Por isso, Walker ganhou. O poder do povo poderia tê-lo 
derrubado apesar de tudo, mas, no momento da decisão, esse impulso já 
tinha sido degradado demais pelas operações normais de nossas 
instituições políticas.
Pode-se dizer que houve uma alternativa debatida no momento – rejeitar 
uma solução “política” (eleitoral) e no lugar dela convocar uma greve 
geral. Isso foi uma perspectiva muito assustadora, no entanto, ninguém 
sabia o que adviria dela.
Se fosse tentada, teria certamente dividido as forças insurgentes, 
porque os democratas teriam feito todo o possível para anular o esforço.
 Os legisladores democratas em Madison eram imensamente melhores do que 
aqueles comprados e pagos na Washington de Obama. Eles se preocupavam 
com os servidores públicos. Democratas do Senado estadual foram tão 
longe que chegaram a sair do estado para não formar quorum para os 
republicanos manterem o que Walker faziam com os direitos sindicais. Mas
 a primeira preocupação de todos os democratas, mesmo os bons, é 
sustentar os poderes constituídos. Para eles, apoiar uma greve geral, 
portanto, teria sido impensável.
O caso de Wisconsin mostrou claramente no quão débil se tornou a 
política eleitoral nos Estados Unidos. Para ver se resta qualquer vida 
nos movimentos Ocuppy, observemos como ele se dissipa enquanto a eleição
 de 2012 se aquece.
Para aqueles que sabem a mensagem de Que fazer?, o remédio é 
claro: é preciso construir uma liderança que seja capaz de fazer a 
mudança acontecer quando o tempo surgir novamente, e isso certamente 
acontecerá.
O problema agora, como sempre, é de que modo ir daqui até lá. Esse foi o
 problema que Lênin dirigiu para seu tempo e lugar. Na Rússia, em 1903, 
ele teve de lidar com um Estado muito mais repressivo do que nós em 
2012.
Mas, com todos os meios que os 1% têm agora à disposição para formar 
opinião e sufocar a dissidência, os obstáculos que enfrentamos são pelo 
menos tão assustadores. O caminho a seguir não será fácil. Mas não vamos
 chegar a lugar nenhum a não ser que tentemos.Os movimentos Ocuppy 
mostraram que a mudança real é possível, que o material humano 
necessário para fazer isso acontecer está aí. Mostraram que “nós, o 
povo,” o suficiente de nós de qualquer maneira, estamos preparados para 
acordar e resistir.
Quando isso acontecer novamente, pois certamente vai acontecer, devemos
 estar preparados. Esta é talvez a lição mais importante que podemos 
aprender com Que fazer?.
Aplicar as recomendações de Lênin mecanicamente, em circunstâncias 
muito diferentes das que ele afrontou, jamais fez sentido, embora 
segmentos da esquerda continuassem por décadas a fazer isso. O que 
deveriam ter feito e o que ainda podemos fazer, é aplicar os princípios 
centrais de Que fazer? às condições que realmente existem.
Então, na próxima vez que a agressão da classe dominante ou as obscenas
 iniquidades geradas pelo capitalismo atual irromperem, a resistência 
terá pelo menos uma possibilidade de gerar uma mudança duradoura e 
benéfica – não a mudança de tipo prostibular que alguns eleitores 
iludidos imaginaram que ia resultar de Obama, e não do tipo fugaz e 
ilusório que os movimentos Ocuppy produziram em seus momentos de glória,
 mas uma mudança real.
* Andrew Levine é bolsista sênior do Institute for Policy Studies e autor de The American Ideology (Routledge) e Political Key Words (Blackwell), bem como de muitos outros livros e artigos em filosofia política. Seu livro mais recente: In Bad Faith: What’s Wrong With the Opium of the People.
 Ele foi professor (filosofia) da Universidade de Wisconsin-Madison e um
 Professor Pesquisador (Filosofia) da Universidade de Maryland, College 
Park. Ele contribuiu com Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press). Artigo publicado no CouterPunch.
Publicado Originalmente em:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/23425/leninismo+para+a+america.shtml

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