Em Brasília, marcha com 10 mil pessoas selou
articulação conjunta das organizações que atuam no campo. Documento
final do encontro camponês mira contra agronegócio
23/08/2012
Pedro Rafael Ferreira,
de Brasília (DF)
Marcha reuniu 10 mil pessoas
Foto: Ruy Sposati/Cimi
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Numa
demonstração de força popular, os movimentos sociais do campo marcharam
com 10 mil pessoas pelas ruas da capital do país, nesta quarta-feira
(22), para denunciar o “esmagamento” da população rural ante o atual
padrão de desenvolvimento promovido pelo Estado brasileiro. O Encontro
Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e
das Florestas, que durou três dias, serviu também para selar uma
articulação conjunta entre as 13 principais entidades que militam na
questão agrária.
“O governo conhece bem as nossas
reivindicações, mas não nos atendeu. A não resposta às nossas pautas
fez com que unificássemos as ações, com forte expressão política. Para o
próximo período, se desenha um cenário de grandes mobilizações nos
estados”, avalia Rosângela Piovizani, do Movimento de Mulheres
Camponesas (MMC).
O Encontro remete ao I
Congresso Nacional Camponês, organizado em 1961, no auge da atuação das
Ligas Camponesas. Naquela ocasião, também foram reunidas, em Belo
Horizonte (MG), as principais organizações políticas que atuavam no
campo. Na avaliação dos movimentos, apesar do fortalecimento do
agronegócio na última década, somente agora foi possível reunir forças
para uma ação conjunta entre diferentes entidades. “O dito projeto
popular do último governo deixou encantados muitos companheiros e agora
esse encantamento está sendo quebrado. Está muito claro que esse governo
tem lado”, acrescentou Rosângela, do MMC.
Agronegócio
O
documento final do Encontro Unitário não poupa críticas ao atual modelo
de desenvolvimento do meio rural, centrado no agronegócio. Ao
protestarem em frente ao Palácio do Planalto, camponeses, indígenas,
quilombolas, pescadores e o conjunto dos trabalhadores não esconderam a
decepção com a omissão do governo. Barracas de lona preta chegaram a ser
montadas na praça dos Três Poderes.
PM usou cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os
camponeses - Foto: Ruy Sposati
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No
entanto, ao tentarem se aproximar do Palácio do Planalto, os camponeses
foram reprimidos pela Polícia Militar (PM) com cassetetes, gás
lacrimogêneo e spray de pimenta.
Após o tumulto, o
documento final foi levado por 13 representantes mulheres em rápida
reunião com o ministro Gilberto Carvalho, titular da Secretaria Geral da
Presidência da República. O objetivo não era mesmo negociar.
“Nós
estamos construindo a unidade em resposta aos desafios da desigualdade
na distribuição da terra. Como nos anos 60, esta desigualdade se mantém
inalterada, havendo um aprofundamento dos riscos econômicos, sociais,
culturais e ambientais, em consequência da especialização primária da
economia”, diz um trecho do documento final.
Em
outra parte, o documento sintetiza as principais contradições do setor:
“este projeto, na sua essência, produz desigualdades nas relações
fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda a dependência externa e
realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus protagonistas
são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e
comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o
Estado brasileiro nas
Marcha encerrou o Encontro Unitário - Foto: Ruy Sposati/Cimi |
suas
funções financiadora – inclusive destinando recursos públicos para
grandes projetos e obras de infraestrutura – e (des) reguladora da
terra”.
Na avaliação feita durante os três dias
de encontro, o projeto em curso no Brasil visa tão somente a “acumulação
de capital especializado no setor primário, promovendo superexploração
agropecuária, hidroelétrica, mineral e petroleira”. Para atender o
equilíbrio das transações externas, as consequências, denunciam os
movimentos, são a concentração da propriedade da terra e da renda e a
perda do território. “O Estado brasileiro está vendido para o capital do
agronegócio, por isso não se respeita o direito de território indígena,
nem quilombola”, afirmou Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional dos
Quilombolas (Conaq).
Publicado em: http://www.brasildefato.com.br/node/10407
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