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Em 2011, mais de dois terços da população dos Estados Unidos sofria problemas de excesso de peso ou obesidade
20/08/2012
Alejandro Nadal,La Jornada
Em 2011, mais de dois terços da população dos
Estados Unidos sofria problemas de excesso de peso ou obesidade. Do ponto de
vista dos lucros da indústria alimentar, a obesidade é o melhor sinal de êxito.
Há duas coisas que as economias capitalistas
sabem fazer e fazê-las muito bem. Uma delas é alcançar economias de escala para
reduzir custos unitários, algo que se atinge muito bem através de processos de
industrialização. A outra é obter subsídios, algo que se otimiza quando se tem
muito poder. Estas duas coisas juntaram-se para produzir a crise da obesidade
nos Estados Unidos.
Em 2011, mais de dois terços da população dos
Estados Unidos sofria problemas de excesso de peso ou obesidade. Atualmente,
este país tem a maior taxa de obesidade do mundo. Dados oficiais revelam que a
percentagem de pessoas adultas com problemas de obesidade passou de 13 por
cento, em 1962, para 36 por cento, em 2010.
A manter-se esta tendência, em 2030, 42 por cento
da população adulta sofrerá problemas de obesidade (11 por cento com obesidade
severa, com mais de 45 quilos de excesso de peso). A taxa de obesidade em
crianças já atinge uns alarmantes 18 por cento. Diversos estudos mostram que as
crianças com obesidade têm maior propensão para conservar a dita obesidade na
idade adulta.
Este excesso de peso produz graves efeitos na
saúde. Os estudos clínicos revelam que a obesidade aumenta o risco de diabetes
tipo 2, doenças do coração, síndroma da apneia do sono, hipertensão, risco de
cancro de muitos tipos e várias doenças crónicas. O balanço final é uma
expectativa de vida significativamente menor em relação à população sem
obesidade. A tudo isto há que acrescentar o desconsolo pela perda da autoestima
e o flagelo da discriminação social.
De onde vem este problema? O primeiro indicador é
que existe uma relação muito estreita entre pobreza e obesidade. A população
mais pobre está mais exposta à obesidade. Nos Estados Unidos, nove dos 10
estados com maiores taxas de obesidade estão entre os estados mais pobres.
Existem distritos pobres, em cidades como Filadélfia ou Nova Iorque, onde 88
por cento dos adultos têm excesso de peso ou sofre de obesidade (50 por cento
da população infantil). Há condados na Califórnia em que uma criança, nascida
em 2000, tem 30 por cento de probabilidade de desenvolver diabetes (essa
probabilidade dispara para 50 por cento em crianças afro-americanas e latinas).
Em proporção, hoje em dia, uma pessoa gasta menos
em alimentos do que há 30 anos. Mas isso deve-se fundamentalmente ao processo
de industrialização que reduziu os custos unitários na indústria alimentar.
Isso não exigiu grandes inovações tecnológicas, mas um incessante processo de
concentração da produção e de transformação da paisagem rural nos Estados
Unidos. A necessidade que têm as cadeias como McDonald's ou Burger King de
manter uma homogeneidade quase absoluta no tipo de produtos que oferecem, mudou
a maneira como se produzem quase todos os produtos de carne, assim como muitos
produtos agrícolas. A produção de carne de vaca, porco e frango, por exemplo,
exigiu grandes concentrações de animais, em condições insalubres e com graves
consequências para o meio ambiente e para a saúde humana. Entre parênteses, não
há que esquecer que essa indústria é a que maior impacto tem na transformação
do sistema alimentar do mundo.
A redução de preços também se deve aos subsídios
que recebe a indústria alimentar, em especial, através dos canalizados para a
produção de milho e soja, produtos que se consomem, em 90 por cento dos
alimentos processados que se oferecem num supermercado. Finalmente, os preços
baixos são artificiais porque não incluem o custo em saúde que alguém tem de
pagar com o passar dos anos: à saída da McDonald's estão à espera as
farmacêuticas com as suas garras bem afiadas.
O tipo de comida ingerida nos Estados Unidos não
é a mais saudável, mas a mais rentável para as empresas. Isto é certo ao longo
de toda a indústria alimentar e, em especial, para as cadeias como McDonald's,
Burger King, Taco Bell, KFC, assim como todas as empresas de refrigerantes e de
comida fútil. Os seus alimentos são veículos repletos de calorias, sal e
gorduras, com um componente minúsculo de nutrientes saudáveis. Em muitos casos
têm ingredientes aditivos. É normal, pois trata-se de dietas especialmente
desenhadas para manter a taxa de lucros e não para alimentar o cliente. Já se
disse: do ponto de vista dos lucros da indústria alimentar, a obesidade é o
melhor sinal de êxito.
A indústria alimentar nos Estados Unidos
converteu o tratamento digestivo da população num espaço de rentabilidade. A
colonização da alimentação pelo capital não é um caso isolado. No capitalismo
tudo pode ser um nicho para obter lucros.
O capitalismo atravessa hoje o que será a pior
crise da sua história. As referências a uma mítica recuperação pretendem
ignorar a realidade: à normalidade antes da crise já se chamava pesadelo.
Tradução: António José André, do Esquerda.net
Matéria originalmente publicada em: http://www.brasildefato.com.br/node/10387
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