Nota dos editores: esse texto foi publicado há um
ano atrás, no entanto, permanece atual pois o governador Beto Richa (PSDB)
continua a dificultar novos reajustes salariais, além de manter a pressão para
fechar turmas como as de EJA e a pressão pela mudança na grade de aulas
diminuindo disciplinas críticas como sociologia ou filosofia para tentar
atingir as nefastas metas de provas estaduais e nacionais.
Brasil - Sítio Coletivo - [Julio Carignano] Trabalhadores
da educação pública da rede estadual paralisaram suas atividades nesta
terça-feira nas principais cidades do Paraná para lembrar da
"anti-comemoração" dos 23 anos do fatídico 30 de agosto de 1988,
oportunidade em que professores durante uma manifestação foram
"recepcionados" no Palácio do Iguaçu pelo aparato de repressão do
Estado, a cavalaria da Polícia Militar sob ordens do então governador Alvaro
Dias, atual senador do PSDB.
Em Curitiba, professores e funcionários da educação enfrentaram a chuva
e percorreram o mesmo trajeto da passeata de 1988, da Praça Santos Andrade até
a sede do governo. Os trabalhadores também ocuparam a plenária da Assembleia
Legislativa para pressionar a votação do anteprojeto de lei complementar da
equiparação salarial da categoria. A proposta prevê o pagamento dos 5,83%
negociados com os professores.
O percentual é relativo a aplicação do piso profissional nacional (PSPN)
no Paraná, bem como a primeira parcela da equiparação salarial. A proposta do
governo é que 3% serão retroativos ao mês de julho. O restante - 2,83% - será
pago no mês de outubro. O anteprojeto foi aprovado durante a sessão desta
terça-feira (30). Vale lembrar que na campanha eleitoral do ano passado, o
atual governador Beto Richa (PSDB) prometeu um reajuste de 26% aos professores
estaduais.
A unificação de turmas nas escolas – fantasma quem vem assombrando o
setor de educação pública no Paraná – também esteve em pauta no Dia de Luto e
Luta da categoria. Desde a quinta-feira passada (25), as escolas vem recebendo
planilhas com a orientação para o fechamento de algumas turmas. Segundo os
professores, os diretores das escolas foram informados que teriam autonomia
nessa prerrogativa, avaliando a situação de cada colégio, porém não é isso que
vem acontecendo. Essa orientação vai a contramão de uma das bandeiras da
APP-Sindicato, que luta pela diminuição de alunos por salas de aulas.
Os manifestantes reivindicam a aprovação de uma proposta que limite o
número de alunos por turma, mantendo a proporcionalidade de professores
contratados pelo Estado para que não seja prejudicada a qualidade de ensino. A
superlotação das salas de aula além de prejudicar o estudante - dificultando
sua concentração – é um complicador para os professores que precisam se
desdobrar para conferir um atendimento de melhor qualidade.
Em Cascavel, professores e funcionários também pararam nesta terça-feira
e realizaram manifestações. Além das pautas estaduais, a categoria no Oeste
reivindicou um melhor atendimento do SAS (Sistema de Assistência Social). Para
isso, eles se concentraram no Hospital Santa Catarina, única unidade na cidade
que presta esse atendimento aos servidores. De lá, os professores partiram em
carreata até a Prefeitura, onde realizaram um ato público. A violência nos
colégios do município também foi uma das pautas das manifestações em Cascavel.
Histórico
As manifestações fizeram parte do tradicional Dia de Luto e Luta dos
Trabalhadores da Educação. A data é referente ao ano de 1988. Há 23 anos, os
professores da rede pública de ensino foram protagonistas de uma greve iniciada
no dia 5 de agosto. Eles reivindicavam a volta do piso de três salários
mínimos, reduzido para dois salários em 1988. Com o intuito de forçar uma
solução mais rápida para a paralisação geral – que então completava 11 dias –
professores ocuparam a Assembleia Legislativa, por onde permaneceram até o dia
31.
Um dia antes, no dia 30 de agosto, foi organizado um encontro de núcleos
regionais da APP-Sindicato na Praça Tiradentes, em Curitiba, e uma passeata até
a sede do governo, onde então os trabalhadores foram "recepcionados"
pela cavalaria da PM, com direito - além das ferraduras dos equinos e os
cassetetes dos policiais - a gás de pimenta e bombas de efeito moral.
Na época, aproximadamente 30 mil pessoas participavam da passeata. De um
lado a multidão, de outro as tropas policiais. Barracas de professores
acampados foram pisoteadas, manifestantes foram impedidos de entrar na Praça
Nossa Senhora de Salete com carro de som.
Segundo relatos, o pavor tomou conta de todos, com bombas estourando
para todos os lados, correria generalizada, transformando o centro cívico de
Curitiba em uma verdadeira praça de guerra. Como saldo, vários professores
feridos, alguns inclusive impossibilitados – física e emocionalmente – do retorno
as salas de aulas.
Questionado hoje em dia sobre o fato, Alvaro Dias - atual senador da
República - defende-se afirmando que o triste episódio sempre "foi
explorado politicamente e com má fé e que na ocasião foi administrado dentro
das possibilidades". Segundo a sua versão, "outras categorias"
de trabalhadores teriam se infiltrado na manifestação para provocar tumultos e
a cavalaria estaria no local para dar "segurança aos manifestantes".
PS: Vale lembrar que manifestações e mobilizações (mesmo organizadas por
determinadas categorias) não precisam ser necessariamente corporativistas. São
nos atos públicos que trabalhadores mostram sua solidariedade. Oportunidade em
que se deixam de lado as categorias (profissões) para se afirmar como classe
(trabalhador).
"Refrescando" a memória sobre episódio de
1988:
Publicado em: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=19038%3A30-de-agosto-no-parana-do-luto-a-luta-pela-educacao&catid=58%3Alaboraleconomia&Itemid=69
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